Eu tenho um problema com obras de arte geradas por ressentimento. Por exemplo: O mundo é um moinho, do Cartola. Que música indigesta. Merece uma tijolada na testa.
Onde tantos veem dor sincera, eu vejo retórica - pra se consolar e convencer os outros de que foi injustiça. Tipo: sou corno mas você vai ficar velha, ãin!
Vai ficar mais claro assistindo a este vídeo instrutivo:
Né?
Na verdade, até gosto muito de algumas obras de arte geradas por ressentimento - como O Mestre e Margarita, de Bulgakov; ou coisas do Radiohead, embora a motivação nem sempre seja identificável... Karma Police ("arrest this girl, her hitler hairdo is making me feel ill") ou Paranoid Android ("when I am king, you will be fast against the wall"). Mas há ironia, há brincadeirinhas boas - a pessoa não se apegou ao próprio ressentimento. O que não dá é narrativa garota-da-laje. Aí minha reação é algo como MEU. DEUS. (arrepios de constrangimento e risadas altas).
P.S.: Nabokov é que é bom. Nabokov é rei. Mesmo quando seu personagem é um loser (Humbert, Lujin, Pnin), e quase sempre é, você nunca o sente como loser. E quando é vilão (Quilty), a mesma coisa. Nabokov demonstra um enorme carinho por eles.