10.8.03

"Cartas deletadas"???

Depois do almoço com meu avô (que vou contar em seguida), olhei uma chamada do Caderno B (Jornal do Brasil) que dizia algo sobre escritores não trocarem mais cartas e sim e-mails. Prometi a mim mesma não esquecer (pois sempre esqueço) e fui olhar no JB Online.
Pronto, começou chamando o novo hábito de "comodismo digital". Que gracinha. Título: "cartas deletadas". Como se papel também não se perdesse. De quem que é a reportagem? Rodrigo Fonseca. Não leio o JB com freqüência, mas esse cara tem problemas. Sempre que leio algo de lá e penso, "quem escreveu essa mierda?", não dá outra: é ele. Se não me engano, ele também escreve algumas críticas de cinema. É um cara meio radical, sabe, daqueles que têm excesso de pêlos na cara durante a faculdade, e muito freqüentemente fumam? E quer posar de vanguarda, mas no fundo é um puta dum conservador? Então.
A coisa das cartas digitais é muito mais complexa. Quantas cartas de papel não foram deletadas também? Deletadas, aliás, neologismo muito bem-vindo, vindo de delere, não sei porque não havia antes - mas fazia falta. O verbo "deletar" chegou pra preencher um assento vazio já reservado a ele.
Mas sim, eu guardo as cartas digitais e as de papel. Tem gente que não tem disciplina ou vontade pra guardar nada, e aí não tem meio que segure suas mensagens... por muito tempo. Claro que de vez em quando acontece um acidente, mas compara as chances da empregada jogar no lixo, a traça traçar, pegar fogo ou perder na mudança (o papel) com as chances de perder tudo num apagão, vírus ou HD broxa (o digital). São equivalentes.
Quanto à parte do novo estilo, não foram fundo o suficiente. Ou melhor, fundo nas críticas e rasos nas benesses. Eu peguei a transição. Vivi 1992. Tive uma pen-pal (por um curto período de tempo) e hoje troco e-mails.
Classificar as mensagens, por exemplo. Adicionar o que esqueceu, em Post-scripts seqüenciais. Anexos plásticos, obras-primas de Paint e Photoshop, e fotos. Aproveitar-se da pequenez da mensagem pra escrever pequenas jóias crípticas. Pequenos poemas concretos. Charadas. Aproveitar-se poeticamente dos meios, e de sua abrangência, pra mandar mensagens que só certas pessoas entenderão completamente, ou do jeito certo. É quase uma nova forma de arte.
Cheguem ao fundo, gente, pois só então a superfície fará sentido...