30.9.04
Ruim. O pior filme que eu já vi no Festival, depois de Separações. JP entendeu, eu não gostei da proposta: uma repetição kafkiana de indecisões ad nauseum. Todos são indefinidos e inoportunos, até o bebê. Acho que o objetivo é aporrinhar o público de uma maneira artística. Ora, alguns filmes são bem parados, mas passam uma mensagem. Não é o caso deste.
29.9.04
Bom.
Imagine A vila, mas como uma espécie de comunidade hippie sem sexo e com telepatia. A minoria de homens são metrossexuais que se vestem de laranja e rosa. Aí, chega o Sean Connery vestido de He-Man (ou Zed).
Zardoz é ficção científica que leva o pessimismo às últimas conseqüências para depois soltar um pouquinho de otimismo. Que a natureza dá um jeito.
E tem humor. Vejamos quando Consuella decide testar a ereção do selvagem (na frente do resto da comunidade hippie):
Consuella: Mostre.
[O telão mostra a imagem de uma mulher ensaboando os peitos. Uma linha branca sobre a tela está praticamente inerte.]
Consuella: O gráfico indica que esta imagem não é estimulante para o selvagem. Mude.
[Briga de mulheres na lama. A linha branca continua na mesma.]
Consuella: Esta imagem também não é estimulante para o selvagem...
O selvagem olha para Consuella e a linha na tela fica maluca. Consuella olha constrangida para a parte de baixo do corpo do selvagem. A comunidade também.
Metrossexual: Consuella, você conseguiu sozinha!
27.9.04
Mais ou menos. Tchecov e Ludivine Sagnier deveriam levantar qualquer filme, não? O filme é inspirado em "A gaivota", e a gaivota é a Ludivine, então...
Acho que não é meu tipo de filme. Pessoas trancadas numa casa de campo, uma querendo comer a outra, disso não gostei (também foi o que baixou a bola de Beleza Roubada, pra mim). Esta foi a parte menos.
Mas depois, a Lili de chanel, dando uma de Lolita Pille, mas tremendo nas bases, a parte na cidade, e da metalinguagem (o cara fazendo um filme do que aconteceu com ele): foi a parte mais.
Mais ou menos. É um anime japonês. A animação é espetacular, nada menos. A trilha sonora e os efeitos sonoros, idem. Mas a história é muito melosa, "bem contra o mal", e os diálogos são totalmente clichês (Eu percebi que não era eu que cuidava dele... era ele quem cuidava de mim. e Agora nunca mais vamos nos separar). Isso estraga.
A seqüência do sonho que o mocinho tem com a mocinha é um dos pontos altos não só dessa, mas de toda a animação japonesa. Estou falando sério. Nunca vi um "sonho" em cinema que parecesse tanto com um sonho. Meus sonhos têm o mesmo sentimento, mas não gráficos tão exuberantes e sons tão pertinentes. Esta seqüência foi a parte Ótima do filme.
A parte Boa foi o final, com uma ópera cantada magnificamente e sangue rubro flutuando pra fora dos buracos de bala na antigravidade. E casou perfeitamente com a imagem. Mas, sinceramente, quem vai ao cinema para ver duas cenas fodas num filme mais ou menos?
Bom.
Existe uma história que cerca este filme, antes de mais nada. Como no ano passado para The Brown Bunny, colocaram um aviso dizendo que o filme era forte, podia chocar a sensibilidade de algumas pessoas, escatologia etc. Por quê? Por quê??? Com isso, acabaram imediatamente os ingressos. O cinema lotou de gente fervilhando de gana de se chocar e contar que viu, que viu... Todos querem provar que são machos ostentando suas camisetas I SURVIVED Irreversível, Réquiem para um sonho, Baise- moi, Nine songs, The brown bunny, Intimidade, sei lá. Assim não, gente, assim não.
Serviu, então, para eu ir preparada para me chocar. Só que não foi escatológico.
É um filme sobre o que está no fundo dos buracos. Dos vazios. E do que acontece se você for lá buscar - o quê, mesmo?
O útero da sua mãe. Os seres submarinos que vivem abaixo de 20 mil pés. As minhocas no fundo da terra. A boca do estômago. O fundo do poço. Um carrinho de supermercado. Uma privada. O ouvido. O cu. A vagina. Um cérebro oco. Um coração vazio.
O nome original é em sueco, mas em inglês é ?a hole in my heart?, ?um buraco no meu coração?. E corações estão em todo lugar: na blusa da atriz pornô (Tess), na luminária da parede, no short cor-de-rosa que enfeita a bunda da Tess... na cirurgia de coração...
Começa assim:
Feche os olhos. O que está vendo?
Um superclose roy-liechtensteiniano em pornografia pesada. E o som? O som!
Ah, e a Barbie e os Kens duplicando o que acontecia no filme pornô amador.
Eu analisei você.
E a Tess parada segurando o carrinho de supermercado vazio. Algumas pessoas riram. Da coisa mais triste desse mundo. E o pai do garoto bebendo água da privada. E o amigo dele, caindo em seu fofo campo de trigo imaginário. O que foi aquilo? Com o perdão, foda.
Para entender qual era a deste filme, me ajudaram Baudrillard (Pós-orgia) e o documentário Surplus.
Pois depois de arrombado não tem mais fundo, o buraco.
Domingo, 25, 21:30. O jogador de cartas.
Mais ou menos. Este eu achei escatológico - que engraçado. Virei a cara nas autópsias. Desnecessário, isso sim. Imita justamente a estética de filmes americanos. De suspense, como se não fosse o suficiente. As partidas de pôquer são interessantes. Uma merda, como todos os filmes que já vi do Dario Argento. A graça é ser trash. Se curte isso, vá.
* * *
Dica: procurem pela trilha sonora do Was Nützt Die Liebe in Gedanken (Pra que serve o amor só em pensamento). Vale pela Princess Crocodile, Free and Easy e Feuertanz. Para quem não mora no Rio, no exterior ou não tem grana, todos os filmes daqui são baixáveis pela internet, ou pegáveis na Cavídeo, creio, mais cedo ou mais tarde. Já estou baixando A última vida no universo (Last life in the universe).
Ruim! Falaram tão bem de O pântano, da mesma diretora, que resolvi assistir esse. É uma história sobre pessoas trancafiadas em seus mundinhos. Uma menina tentando descobrir qual é a missão divina dela. Ela quer ser santa, realizar um milagre, mas não consegue. (Porque isso não existe, talvez?) Na minha opinião, ela entra numa fantasia confusa e se perde. Isso é o que acontece com todos os outros, cada um à sua maneira. O problema é que, com isso, a história também se perde. E não deliciosamente, como em Morvern Callar. Fica sem pé nem cabeça. Tanto que quando o Homem chega à Mulher e vai balbuciar alguma coisa, alguma pergunta sobre tudo aquilo, ela o abraça: eu sei, eu sei, é tudo muito confuso. Nessa hora a platéia soltou uma risada de puro nervoso, achando que tinha entendido o filme. Mas eu sabia que era só uma armadilha. Entendi que "ninguém é santo", mas honestamente, pfff-f. Um amigo meu entendeu o filme e gostou. Eu pedi pra ele me explicar. Acho que ele não conseguiu.
Hoje vai ter. Vocês vão agüentar muito.
Quando eu estava na quinta série, fiquei em terceiro num concurso. Jovem Embaixador do Globo. Um concurso com Fase I (Prova de Português, Matemática, História, Geografia) e Fase II (Redação), da quinta série até o segundo ano do segundo grau. As três primeiras colocações de cada série ganhariam uma viagem com tudo pago. Foi bom ser terceiro porque fomos para Recife, e não Argentina como os primeiros e segundos.
Deixe-me explicar. Eu achava que tinha algum problema. Meus colegas não eram como eu, minha mãe não era como eu, meus primos, as pessoas da TV; ninguém se comportava ou pensava ou lia como eu.
Em Recife, conheci cinco pessoas que eram como eu, com queridas variações de personalidade. Que falavam de livros na piscina. Quebravam o pé e o óculos numa descida de meio-fio. Que tinham uma inteligência maligna para tarefas e perguntas realmente escrotas para o Verdade e Consequência. E citavam Roberto Carlos.
Eu estive no Paraíso pela primeira vez, entendendo que os outros é que tinham algum problema, e que se eles estavam no poder, é que tinha alguma coisa errada. Viu aquele episódio em que a Lisa, o Prof. Frink, o Dr. Hibbert, o Skinner e o Comic Book Guy dominam Springfield porque o prefeito estelionatário fugiu? E depois brigam por futilidades e são separados pelo Stephen Hawking? Aaah. Perfeito.
Fui encontrada por eles no Orkut.
26.9.04
Mais ou menos. Acho que não agradou nem aos fãs do Metallica. Fui ver por tocar na questão do Napster, que é parte do assunto da minha monografia. Como documentário, é muito bom. Levanta a bola deles, como uma espécie de boyband. Elderband. Um gosta de andar de moto bem rápido, aí ele é multado e todos sorriem; o outro usa o surf, os filhinhos loiros, balé, pirulito - oh, nossos heróis! E guitarras - guitar heroes! Metallica ficou bem na fita.
A moça do baixo manda bem. O "índio" contratado permanentemente pro baixo, também.
Lars é idiota. Completamente. Agora vi com meus próprios olhos. Riscou o pezinho no chão, mãos nas costas, bem mocinha, e lamentou (sor-ry...) por "não compreender logo de cara a atitude em jogo no Napster", algo assim. Claro, caras como ele não se desculpam.
Ah, e as coisas bizarras da saída. Um cara com um estojo de guitarra (ou seja, ninguém que eu possa remotamente conhecer) me chamou (psiu psiu). Viro. Não, nem remotamente me lembra um rosto conhecido. Ele também não parece me reconhecer.
- Quem que é você?
- Hã?
- Quem é você?
- Seu nome não é Marina?
Não com a cabeça.
- Ah, desculpa...
Depois, passo por um cara abraçado a uma árvore. Apaixonadamente. Permanentemente. Coitadinha, ela não pode se defender. Qual é o nome de quem curte (*curte*) árvores?
25.9.04
Começou a roda-viva. De "ótimo", apenas para filmes fodas, passando por bom, mais ou menos, ruim e péssimo, além de outras classificações inventáveis a qualquer segundo, lá vão as minhas idéias dos filmes de hoje:
Sábado, 25, 14:30h. Pra que serve o amor só em pensamento.
Bom. Esqueci o nome de quase todos, então vamos de estereótipos mesmo. Poeta e Psycho estudam juntos. O Poeta é apaixonado pela irmã do Psycho, Hilde. Hilde está atualmente transando com Hans, mas não quer se deixar prender por homem nenhum. Psycho parece odiar o Hans, que está comendo sua irmãzinha, mas aos poucos, vemos que não passa de amorrr. A Melhor Amiga de Hilde é apaixonada pelo Poeta. Pronto. O filme é lindo pela sua fotografia, pela trilha sonora, figurinos, e por toda a fantástica seqüência da festa. Atores bem escolhidos. Hilde me lembrou das atuais estrelinhas de blogs e fotologs, aquelas que fazem listas de presentes que seus fãs otários lhes dão pelo simples prazer de presentear suas deusas. Pode ir conferir... se sobrou ingresso ainda.
Sábado, 25 16:30h. A última vida no universo.
Bom quase ótimo, não tivesse exagerado na lentidão numa certa hora lá. Humor sensível. Um japonês na Tailândia. Obcecado por ordem, quieto, limpo, sem Tv, muitos livros. Bibliotecário. Seu irmão invade sua casa com six-packs de Heineken e esculacha seu modo de vida. Freqüentemente. Sempre tenta se suicidar. Sempre é interrompido. Sim, interrompido. Por uma série de bizarros eventos, vai parar na casa de uma moça. A moça também é bizarra. Uniformes de colegial e orelhinhas de coelho. Lembra a relação que criei para Maria Luiza e Francisco no meu livro/roteiro, mas sem ser tão pesada. O filme é light, apesar de não esconder o que as pessoas fazem. Como ter caganeira. E acordar com a calça gozada. E deixar a piscina verde. E não cuidar de si. E ficar na solidão. Ciranda da bailarina.
22.9.04
21.9.04
19.9.04
Portanto, é divertido mas não é legal. E, sim, temos planos de nos tornar acadêmicos num futuro distante.
Bah... mas se eu falar o que é... vai chover "ah, é" onde eu não quero. Conclusões equivocadas. Pergunte a mim se você for meu amigo e muito curioso, que eu respondo.
16.9.04
Baudrillard -> apocalíptico da internet -> nem a usa.
Pierre Lévy -> integrado da internet -> a usa, fascinado.
Funk -> masscult -> tosco
Capital Inicial. Jorge Vercilo -> midcult -> pega uns estilemas de Djavan, Lulu Santos, Memê e até Jorge Benjor e Gabriel, o pensador e faz uma mistureba bastarda. É como se você pegasse o nariz da Isabelle Adjani, a boca da Angelina Jolie e os olhos da Ana Paula Arósio pra montar um rosto. Sairia um Frankenstein (ou a noiva do mesmo).
14.9.04
"Agora chegou uma versão de California Dreaming remixada pelo Benny Benassi que é uma loucura pra aeroboxe e lambaeróbica, que graças a deus, de lambada agora só tem o nome, né? Aliás, estamos planejando mudar de nome para eletroeróbica.
Banimos permanentemente algumas coisas, colocamos no Index mesmo. Como Jorge Vercilo, Kelly Key, afinal, isso o cliente já ouve só de ligar o rádio, né? E, sinceramente, praquê ouvir mais disso? Ah, e em vez de colocar coisas óbvias da era disco, como It's raining men, resolvemos colocar uns clássicos da Motown e afins. MPB remixada, só se for Elis.
Na sala de musculação só toca música clássica, de vez em quando um jazz; afinal, também queremos promover o exercício do cérebro. Pelo mesmo motivo, é proibida a entrada de revistas de famosos no recinto. Nesse ponto fomos firmes: só jornais sérios, não querendo entrar nessa discussão, e livros. Bem, pra confessar, colocamos alguns folhetins, como Mistérios de Paris, mas pára por aí.
E no fim da aula, no alongamento, o que tem feito muito sucesso é o tema de Six Feet Under remixado. Até para uma reflexão posterior, afinal, todo mundo sabe que o que a gente faz aqui até adia, mas não impede, né?"
11.9.04
Retcon, sabe? Continuidade retroativa, termo de quadrinhos. Os novos fatos que um novo autor enxerta num velho personagem alteram o passado dele. Outra: a experiência da fenda dupla ("fatos do presente podem alterar o passado"). Você começa a ver com novos olhos coisas que há muito aconteceram, e então você entende. Ao gostar do que então eu chamava de techno, entendi porque gostava de Luciferama e de Tomorrow Never Knows.
Então, por mais que eu me envolva com pessoas que pensam e fazem cinema, música ou literatura, não vou me engessar numa coisa só. Não vou me emparedar. Desde pequena, aliás: o anel E a luva. O corpo E a mente. Ideal renascentista, mora?
9.9.04
Mas...
Não é lenda, não, não. Não tudo. Que os japoneses colocaram um reator nuclear no lugar do coração dela, é verdade. Ela ganhou o nome de Da-ni-ge-ro-su Ha-a-to que acho que era como eles pronunciavam Dangerous Heart. Pois Dani foi só a primeira; depois teve a dois e a três, todas brasileiras de olhos grandes e boca carnuda. Agora, dizia-se que o reator da primeira Dani tinha uma falha. Que se fizessem a menina ter um orgasmo forte o suficiente, ia rolar um meltdown. Que sucesso ela fazia no mercado negro, né? Lá iam os clientes fazer a irmã dele gozar que nem louca. Nem parecia que eles é que estavam pagando. Idiota, pois se conseguissem iam morrer, mas acho que esse era o tesão da coisa. Isso era mito. Tenho pra mim que essa história veio dos próprios donos dela para valorizar a mercadoria.Pois um dia a Dani soube disso. Primeiro, ficou arrasada. Achava que era a mais procurada das três porque era a mais bonita ou a mais atraente ou a melhor na cama. Depois, começou a ter medo de que fosse verdade. No fim das contas, acabou se oferecendo para outra experiência que andavam querendo fazer e no fim ela teria um coração de tecidos animais. Já tinha sido cobaia antes, dera certo, não tinha problema ser de novo, né? Errado. Morreu.
3.9.04
Mariana me mostrou este teste. Isso deu Very High. Por mim tá ótimo. Ficaria puta se desse, por exemplo, Dependent ou Borderline.
E umas três mesóclises num mês de trabalho. Suspirar-se-á.
"Como vocês sabem, o Fulano e o Sicrano ficaram de pé o dia inteiro de castigo na semana passada. Resolvemos acabar com esse castigo..."
Aí eu pensei: que bom, porque isso deve cansar demais. Eu, que era uma aluna exemplar, senti uma rara pena dos castigados. De vez em quando, olhava de esguelha pra eles, de pé no canto.
"...porque suas pernas são novinhas e vocês não ficam cansados, mesmo ficando de pé o dia inteiro.".