27.9.04

Domingo, 25, 19:00. Um vazio no meu coração.
Bom.
Existe uma história que cerca este filme, antes de mais nada. Como no ano passado para The Brown Bunny, colocaram um aviso dizendo que o filme era forte, podia chocar a sensibilidade de algumas pessoas, escatologia etc. Por quê? Por quê??? Com isso, acabaram imediatamente os ingressos. O cinema lotou de gente fervilhando de gana de se chocar e contar que viu, que viu... Todos querem provar que são machos ostentando suas camisetas I SURVIVED Irreversível, Réquiem para um sonho, Baise- moi, Nine songs, The brown bunny, Intimidade, sei lá. Assim não, gente, assim não.
Serviu, então, para eu ir preparada para me chocar. Só que não foi escatológico.
É um filme sobre o que está no fundo dos buracos. Dos vazios. E do que acontece se você for lá buscar - o quê, mesmo?
O útero da sua mãe. Os seres submarinos que vivem abaixo de 20 mil pés. As minhocas no fundo da terra. A boca do estômago. O fundo do poço. Um carrinho de supermercado. Uma privada. O ouvido. O cu. A vagina. Um cérebro oco. Um coração vazio.
O nome original é em sueco, mas em inglês é ?a hole in my heart?, ?um buraco no meu coração?. E corações estão em todo lugar: na blusa da atriz pornô (Tess), na luminária da parede, no short cor-de-rosa que enfeita a bunda da Tess... na cirurgia de coração...
Começa assim:
Feche os olhos. O que está vendo?
Um superclose roy-liechtensteiniano em pornografia pesada. E o som? O som!
Ah, e a Barbie e os Kens duplicando o que acontecia no filme pornô amador.
Eu analisei você.
E a Tess parada segurando o carrinho de supermercado vazio. Algumas pessoas riram. Da coisa mais triste desse mundo. E o pai do garoto bebendo água da privada. E o amigo dele, caindo em seu fofo campo de trigo imaginário. O que foi aquilo? Com o perdão, foda.
Para entender qual era a deste filme, me ajudaram Baudrillard (Pós-orgia) e o documentário Surplus.
Pois depois de arrombado não tem mais fundo, o buraco.

Domingo, 25, 21:30. O jogador de cartas.
Mais ou menos. Este eu achei escatológico - que engraçado. Virei a cara nas autópsias. Desnecessário, isso sim. Imita justamente a estética de filmes americanos. De suspense, como se não fosse o suficiente. As partidas de pôquer são interessantes. Uma merda, como todos os filmes que já vi do Dario Argento. A graça é ser trash. Se curte isso, vá.

* * *

Dica: procurem pela trilha sonora do Was Nützt Die Liebe in Gedanken (Pra que serve o amor só em pensamento). Vale pela Princess Crocodile, Free and Easy e Feuertanz. Para quem não mora no Rio, no exterior ou não tem grana, todos os filmes daqui são baixáveis pela internet, ou pegáveis na Cavídeo, creio, mais cedo ou mais tarde. Já estou baixando A última vida no universo (Last life in the universe).