Acho que tenho que parar de ler críticas a novos autores em bloco... é tão gostoso poder dizer que todos são uma bosta. Eu mesma gostava, sempre tendo o cuidado de excluir meu nome do rol. Mas como ninguém prestava eu não lia ninguém e não sabia o que estava acontecendo nem o que tinha acontecido. Parei no meio de um oceano sem vento. Puxei a cordinha e liguei o motor (é um bote): resolvi ler o que está sendo feito agora e procurar realmente captar o que as pessoas têm a dizer, mesmo que a mensagem tenha vindo truncada.
Os resultados foram excepcionais. Logo divisei as genuínas fraudes, as que nada queriam dizer, dos que tentavam mas (por qualquer motivo) não conseguiram ou conseguiram pelo menos parcialmente. Havia os "isso não pode se perder, devo registrar o que vejo", havia os "minha vida é foda, os outros devem vivê-la através da minha autobiografia disfarçada", havia os "quero criar uma obra nesse estilo consagrado mas com a minha cara" e havia os "quero criar algo que diga algo".
Logo comecei a querer ler mais, visitar sebos, querer conseguir livros esgotados, russos, americanos satíricos, franceses do início do século passado - pois magicamente um livro puxa outro, e com alegria. Também melhorei como escritora, pois conseguia ver onde outros tinham falhado e os terrenos que já estavam esgotados. Também consegui ver matas virgens onde eu poderia me perder e onde, se o leitor quisesse, também poderia. Os bons livros antigos contêm caminhos considerados exauridos que hoje já floresceram novamente e podem ser transitados com bom proveito.
Um último aviso. Ler livros ruins pode ser bom para a saúde literária, mas ler livros horríveis só gera cinismo e desesperança. E ler livros bons e ótimos é sempre um exercício de humildade - mas ai, tão poucos! Recomendo Ada, do Nabokov.