5.8.07

Tenho a impressão de que minha popularidade aumentará muito quando eu for velha. Poderei namorar um velho em corpo de velho, por exemplo. As velhas também me adoram, por algum motivo.
Outro dia tive que apertar algumas roupas (o regime teve bom termo) e entrei num recinto com três mulheres acima de 50 anos, não propriamente velhas, mas cada coisinha que eu falava ou agia acertava tão completamente em cheio, que saí (após desejar "bom trabalho" e receber calorosos agradecimentos) sendo seguida por três olhares já saudosos. Eu tentei pensar que era a solidão delas, encerradas as três ali o dia todo e sedentas de companhia, mas entraram mais umas duas mulheres deixando e levando roupas a ajustar e as costureiras não foram simpáticas além do necessário.
Como se precisasse de mais confirmação, entrei num sebo e perguntei pelos livros da Colette. O atendente coçou a cabeça e chamou o dono do sebo, que era um velhinho gênero Dumbledore sem barba. Ele sorriu e disse que os livros da Colette eram do tempo dele, enquanto o procurava. Não encontrou e tentou me empurrar um livro da Françoise Sagan, não de uma maneira shill (aumente seu vocabulário com Simone), mas de uma maneira graciosa (até por ter acertado na correlação). Agradeci e disse que tinha comprado um no dia anterior, o que era uma pena. Ele olhou a minha lista completa e disse, com um ar de admiração, que os meus livros eram muito difíceis de se encontrar. Agradeci embaraçada e saí, aquilo já estava virando flerte. Se JP não existisse, eu mais um pouco virava herdeira de sebo.
Eu realmente não faço de propósito, assim como não sou estabanada socialmente junto à "minha geração" de propósito. Às vezes sinto uma pressão para que "volte ao mercado", não "desperdice" minha juventude com um só (para desperdiçar com vários). Mas os jovens não me interessam, só os que são rabugentos, dizem que o frio acaba com suas juntas e batem nos outros com a bengala.
Estou transformando isso em conto, é claro.