15.8.07

Ficam me negando a nacionalidade porque não caio no estereótipo. Desconhecidos em supermercados.
Perguntei a um atendente onde ficava tal produto, ele me disse, e quando ele foi embora uma pessoa a meu lado soltou impromptu “você é daqui?”. Aconteceu várias vezes, muitas mesmo. É um incômodo real pros outros ver que nasci e cresci aqui no Rio e sou desbronzeada, educadinha, tenho ojeriza a roupas de jersey*, não gosto de ser interpelada por desconhecidos etc. etc.
Ao desconhecido do supermercado que me interpelou - lembro que virei para ele, estudei-o com uma cara intrigada, vi que não nos conhecíamos e que o tom da pergunta, apesar de ser uma indiscrição, era de pura curiosidade irreprimível - séria, respondi que sim.
- Mas não nasceu aqui.
- Nasci, sim. Nasci aqui.
- Nasceu no Brasil; mas não no Rio - afirma peremptoriamente o desconhecido.
- Sim, nasci aqui, no Rio de Janeiro.
- Ah... (longa pausa) Não parece!
Comecei a fazer a engenharia reversa dessas perguntas todas e suas respectivas ocasiões e a motivação me pareceu transparente. Incomoda o modo natural com que faço as coisas, como se estivesse familiarizada com elas, mas ainda assim não as aceitasse. Pego um ônibus, mas sento retinha. Realmente esse é um país para acomodados, e é só pelos incomodados que se faz força: pra marcar com a letra escarlate, ou melhor ainda, expulsar à base de muita pressão e invasão. E é claro que também não me conformo com isso.
Se eu fosse uma carioca normal, atenderia o desconhecido no supermercado já com um sorriso, que afinal ele teve o bom-gosto de prestar atenção em MIM!

*daquelas estilo mock-Pucci que andam em alta. Eu tenho uma delas, mas comprei como uma piada, para poder usar penteado alto e rímel junto. Nostalgia osmótica da Cruzeiro pesquisada na Biblioteca (de 60 a 70).