14.12.04

Sobre apartamentos

1. É tão difícil achar um-quarto no Rio. Tudo porque a família é a base da sociedade. Dois quartos é o mínimo construível, um-pro-casal outro-pras-crianças. Até o três quartos é mais individualista que o dois-quartos, que pressupõe um casal ou um dos pais (quarto 1), um filho (quarto 2) e uma filha (quarto 3).
2. Se eu estivesse procurando "dormitórios" ao invés de "quartos", creio que não só acharia um-dormitório fácil fácil, como também prédios mais bonitos. Já passeou por Pinheiros? Aparentemente, como aqui a cidade era bonita, não quiseram se esforçar tanto na arquitetura. Resultado: já passeou por Copacabana? Aqui nesta cidade me dizem: você é muito exigente. Só porque não gosto de prédios pintados com cor de molho de ovo de codorna (rosa-alaranjado), cobertos de fuligem ou de arquitetura monstruosa.
3. Existem, sim, os "maravilhosos" apart-hotéis de um-quarto, de arquitetura linda e muito bem conservados. O que é terrível são os mimos embutidos: você paga, sei lá, 700 reais de condomínio e tem Net, banda larga, arrumadeira, lavanderia, academia, o diabo. Eu acho isso uma coisa perversa: o recém-separado, passado das mãos da mãe à da mulher, é então passado das mãos da mulher para o da instituição. Babás de adultos.
4. Quero aprender a ralar, porra, e quero ralar sozinha, ralar cocos e raízes na ilha deserta, fazer empanados de banana e peixe com farinha de mandioca, sozinha com meus pensamentos. Que sociedade é essa que não reserva ilhas desertas para seus ermitões?