Mia vita violenta
Na verdade fui só assistir o massacre que esperei quatro anos pra ver. Mas acabei engajada; talvez tenha que assassinar alguns padawans. Saí da reunião conspiratória às 9 da noite (evidentemente que por ser conspiratória, não poderei dar mais detalhes por enquanto) e vim andando pra casa. Isso incluía passar na frente da Policlínica e daquele viaduto com escadinhas para a rua de baixo. Um pouco antes de passar na frente da segunda escada, vi um par de olhinhos espiando pelo vão e sumindo logo em seguida. Pensei: truque velho. Minha vó, quando passei no vestibular, dizia: cuidado com os pivetes da escada do viaduto. Nunca tive a chance de ter cuidado com eles. Até hoje.
Quando passei na frente da tocaia, minha cabeça já estava virada para a boca da escada, de onde saiu o pivete. Eu acompanhei sua saída e o olhei tão pouco surpresa, tão imelindrada, tão e aí, vai me assaltar? que ele esqueceu a fala. Talvez nunca uma menina de classe alta tivesse olhado pra ele por tanto tempo; durou três segundos, e ele ficou meio tímido. Ele ficou sem-graça, foi isso. Percebi, além disso, que ele contava com o elemento surpresa: uma patricinha latiria, auff!, assustada, e entregaria o celular GSM e a carteira com os dedos pintados tremendo. Eu só fiquei olhando pra ele. Ele não tinha um plano B, até então tudo funcionara perfeitamente; logo, ele não tinha uma arma.
Portanto, comecei a correr, mesmo achando desnecessário. No caminho, ultrapassei duas patricinhas que começaram (!) a correr junto. Já sã e salva, mandei-lhe um longo dedo-do-meio (dedos de pianista, diziam também). As patricinhas começaram a perguntar o que tinha acontecido, elas não tinham entendido. Fui respondendo até me separar delas na pastelaria, desejando "boa sorte".
É muito estranho ter uma vida aventuresca de repente. Mas acabou de me ocorrer a velha cisma: o que eu escrevo acontece. Acontece. Sobre a cidade estar violenta, e você ser mais violenta que a cidade. Mão quente na água quente, mão fria na água fria.