25.5.07

Quando eu digo ninguém escuta. Vamos ver se escutam ao Eduardo Coutinho.

É, no fundo é o seguinte: é amar e idolatrar o povo ou odiar o povo. Sabe? "O povo é santo", "o povo é burro". E tem outra que despreza o povo. Uma visão antiga do CPC: o povo não tem cultura, o povo é um copo d'água… é um recipiente no qual a gente bota nosso conteúdo do saber. Vanguarda leninista uma, e na outra, vanguarda cristã. O que é a cristã? Eu sou um intelectual, portanto eu sou um escroto, uma lástima. Se eu sou classe média intelectual, o que todo intelectual é, qualquer que seja sua origem, então ele é maldito. Puro é o pobre de espírito, puro é o índio, puro é o analfabeto, puro é o fodido, entende? Transpondo pro cinema americano, puro é o gay, puro é o excepcional, puro é o negro… aquela coisa insuportável. Na verdade, o documentário de hoje ainda é assim. Intelectual é o cara que vai fazer filme pra purgar sua culpa. No momento que você tem culpa quando você filma, é melhor não filmar.
(...)
Eu ponho na equipe pessoas de classe média, que são as que fazem cinema. Mas isso tem, "Vou me encantar porque a favela é maravilhosa…" Não é maravilhosa nem horrível! (...) Todo mundo vai filmar o excluído, quando não são excluídos, então, deviam filmar o mundo delas também. Eu falo como me sinto, porque não quero fazer regras, não há regras. Por exemplo: "Ah, por que não filma a classe média, Barra da Tijuca?" Eu falo, acho fundamental você filmar os que mandam, os poderosos, a classe média, filmar tudo e não só filmar o excluído, aquele que não é você.


(Em entrevista à revista Cinestesia -- www.cinestesia.com.br)