10.5.07

Sou muito pragmática no que diz respeito a magreza. Pessoas muito esquálidas ou muito gordas me dão nervoso: meu ideal é corpo de miss dos anos 40, de certinha do Lalau. Mas mesmo esse ideal é muito flexível. Só me preocupo se as roupas não estiverem cabendo mais, porque aí vou ter que comprar outras e, francamente, detesto comprar roupas (trauma de infância: lembro nitidamente da minha mãe escolhendo vestidos embabadados pra mim na Halloween, daqueles que pinicam terrivelmente). Ainda mais outro guarda-roupa inteiro de uma vez só. Minha excentricidade me mantém na linha.

Às vezes eu acho também que ando por aí muito arrebentada, crash-chic, cheia de cicatrizes e joelhos ralados. Pareço até uma cutter, mas não são machucados autoinfligidos (exceto pelas cutículas. mas quem pode resistir?). São mordidas de mosquitos, topadas, acidentes com a bicicleta, calos feitos por sandálias malvadas, etc. etc.

Agora, com o 300, parece que todo mundo descobriu o estoicismo, que pratico desde as aulas de Educação Física da 1a série. Mas não adianta, é de pequeno que se torce o pepino.

Pude comprovar isso na prática outro dia, quando percebi, apavorada, que a hora de trocar todo o guarda-roupa estava se aproximando. Só com o susto, perdi um quilo. Procurei um médico. Ele me receitou um regime que cortava doces, massas e pães.

Os naturebas dizem que é possível se viciar em açúcar. Pois isso bem serviria como minha definição: junkie do açúcar. Para que se entenda a enormidade do obstáculo, é preciso assinalar: estou para o chocolate como Vinícius de Moraes está para o uísque. Impressionei muita gente com minha resistência - e sem crise de fígado nem nada no dia seguinte. Normalmente, quem tentasse me acompanhar é que passava mal.

Apesar de tudo isso, foi comovente a receptividade com que abracei as barras de cereais. O sucrilho sem açúcar. O mate diet (isso sim boquiabriu os circunstantes). O leite desnatado e o ciclamato e o aspartame. Purê de batata e salada. Sem reclamar.

Pois bem. Esse regime começou no mês da Páscoa. No mês da Páscoa, perdi dois quilos. Agora mais outro. Faltam três para chegar no peso que eu tinha no segundo ano do ensino médio. E não, não estou enxergando os transeuntes como apetitosos coelhos de chocolate ainda. Na verdade, está bem tranqüilo. Continuo comendo bem, inclusive sobremesa, coisas como frutas, gelatina, iogurte, Trident. Começo a suspeitar que não sou viciada em açúcar, mas em doce.

Engraçado como há quem pense que estoicismo é coisa de oligofrênicos. Bobagem. Domar o corpo é fácil se a mente é forte. A recíproca não é verdadeira.