15.10.02

O jab de direita

Demorei pra criar coragem, porque sou paranóica e fico achando que o cara vai ler meu blog...
Mas imagine a cena: num desses dias de calor infernal (todos ficam mais violentos no calor), eu suando em bicas após andar quase quinze minutos com uma mochila pesada e quente nas costas, decido tirar os óculos porque eles estão escorregando na minha cara suada. Prendo os óculos na blusa e enxugo a cara com a mão (a parte do nariz em que os óculos se apóiam está gordurosa e nojenta). Nisso, um gordão de terno e óculos escuros (nunca confie em quem usa óculos escuros e terno) que estava encostado perto do ponto de ônibus e me secava descaradamente durante toda a operação de secagem (redundância necessária), sem que eu me dignasse a olhar para ele, solta essa:
- Que calor, meu amor.
Eu me viro e, com um movimento preciso, desfiro um jab de direita na bochecha gorda do paquidérmico. Eu quis apenas cumprir uma promessa que fizera a mim mesma: se você se sentir ultrajada, não vai engolir calada, nem que tenha que bater no cara. Virei, bati, e saí - andando, do mesmo jeito de antes. Como ele tinha uma bochecha bem gorda, não senti dor na mão. Nenhuma. O impacto ficou todo na mandíbula do animal. Foi um soco muito bem dado e merecidíssimo.
Ele veio atrás de mim como um louco (apanhou de mulher!... e tão rápido que quase ninguém viu) e esfregando a bochecha (vendo isso, fiquei feliz de ver que tinha funcionado). Tentou me dar um empurrão, mas falhou. As mãos esbarraram na minha mochila.
- Tá maluca, garota?
- Eu? Não. Você é que está. (Eu não podia crer que ele ainda queria argumentar.)
- Tá maluca? Só falei "que calor, meu amor".
- Pois então! Não sou "seu amor".
Foi então que ele ficou meio perdido. Perdeu distância, confuso. Voltou à ladainha de dizer que eu era doida e coisa e tal.
- Se quiser ainda vai levar mais! - ameacei, com plena intenção de realizá-lo.
Aí ele tentou soltar umas bravatas, dizer que também acabava comigo, etc - mas não colou. Só se lutássemos sumô. Acabou desistindo de vir atrás de mim depois de mais alguns impropérios que só me fizeram rir.