Entrevista com o antropólogo Otávio Velho na Folha de SP de hoje, grifo meu:
"Velho - (...)Há diferenças também entre o governo Lula e o de Fernando Henrique.
Folha - Por exemplo?
Velho - A política externa. Para mim, o ponto alto do governo Lula. Houve realmente uma ousadia, uma capacidade, que faz diferença. Agora, voltando à questão da desilusão, há uma certa dificuldade hoje de se saber qual é de fato a natureza da atividade política, uma tendência de avaliar a política com parâmetros que não são dela.
Folha - O sr. pode explicar melhor?
Velho - Nesses momentos de escândalo e de corrupção, por exemplo. A idéia de que saiu alguma coisa errada permite que surja uma espécie de moralismo pelo qual tudo é julgado a partir da moral e da ética. Não é assim que as coisas acontecem. Você não julga um bom artista pelo seu aspecto moral, mas por ele ser bom naquilo que faz. Um bom político não é necessariamente o mais moral ou o mais ético."
Sad but true. E o negócio do artista, bem, eu disse ontem.
"Folha - O sr. não acha que esse realismo não é desmobilizante, uma ameaça à democracia?
Velho - Pelo contrário, acho que ameaça à democracia são justamente essas ilusões da elite e, portanto, a outra face que são as desilusões."
Vale muito a pena ler, mesmo se for para discordar.