23.5.04

Primeiro preciso dizer que adorei esta crítica (Prosa e Verso de novo). O cara - Sidnei Silveira - traçou um bom painel de porque a literatura hoje é chata examinando o último livro da Fernanda Young. É bem aquele negócio da sacadinha, e do autor que escreve em cima da sacadinha, e não a partir da sacadinha (vide post muito anterior). Mas não é só isso. É isso:
"Advirta-se que, no mundo atual, não temos o direito de ser puritanos, de corar como donzelas vitorianas ao ler uma frase vulgar (e no livro há muitas!). O problema é: a banalização da amoralidade faz desses personagens meros títeres, e lhes tira a tensão humana entre ser e dever-ser, que distingue o verdadeiro personagem do fantoche."

Mandou bem, cara. Mas lendo a crítica toda, achei que ele exagerou na exigência de puritanismo, embora tente se defender com frases como as daí de cima.

Impliquei também com o subtítulo que existe apenas na versão impressa: Personagens criados por Fernanda Young em Aritmética são pouco verossímeis.
Calma aí, cara pálida. Desde quando verossimilhança é critério para qualidade de romance? Romances jornalísticos, talvez; mas, se for assim para todos, me avise, porque tenho escrito romances muito ruins. Mas lendo a crítica toda, você vê que o que houve ali parece ter sido uma expressão inadequada. Talvez os dramas dos personagens sejam pouco relatados aos dramas vividos por pessoas de verdade. Mas um romance surrealista, pelo critério de "verossimilhança", não presta.