À direita
Na saída do metrô da Carioca, encaro duas escadas rolantes. Lembro do metrô de Londres, as pessoas enfileiradas à direita das escadas intermináveis até onde a vista alcançava. A esquerda, como no trânsito, era a via expressa; quem tivesse energia para subir as stairways to heaven, tinha perfeitamente como passar. Os turistas, acossados, adaptavam-se rapidamente sob os olhares severos dos nativos.
Que coisa engraçada. Aqui tem o mesmo adesivo que lá - "mantenha-se a direita" - colado exatamente no mesmo lugar, mas aparentemente ninguém lê. E aliás, precisa ler? Mesmo que não se fique sempre à direita, deixe um pobre apressado subir em ziguezague. Não entupa a escada. Sim, porque tem gente que entra num degrau à direita, atrás de um cidadão consciente, e logo é tomado de súbita pressa, que se esgota inexplicavelmente no degrau à frente, bem do lado do cidadão consciente, estressando desnecessariamente quem planejava (esperança vã) subir pela esquerda.
Assim me vejo acometida de um surto direitista, interprete como quiser: se a gente tivesse uma guerra, talvez as pessoas aprendessem a se posicionar no mundo. Um corpo ocupa um espaço, caramba, e o espaço que o seu corpo ocupa numa coordenada x, y e z no tempo t tem conseqüências. Numa guerra, essas conseqüências só são mais rápidas e graves; quem não se liga, babau. Se bem que já estamos em guerra.