13.11.04

Então uma livraria. Não uma livraria que coloca os mais vendidos escrotos empilhados, ou pior, lançamentos-jabás que nem ainda começaram a vender, mas assim que forem empilhados perto da saída, serão best-sellers, então é como um cartão de crédito: best-seller garantido, leia antes de todo mundo! Uma livraria que realmente empilha livros decentes, coisas que sabe que um verdadeiro literato há de amar ou pelo menos, se interessar o suficiente para pegar e folhear.
Claro que isso significa que essa livraria será bem mais cara do que as outras e eu, pelo menos, não poderei comprar lá, mas dou fé que os ricos comprarão lá porque não sabem os preços das coisas, não querem saber e/ou têm raiva de quem sabe.
Porque capas, feias ou bonitas, em alto ou baixo relevo, foscas ou polidas, duras ou moles, cafonas ou sofisticadas - vocês não me enganam. O que importa é o conteúdo.
Passeando pela livraria boa-porém-cara, notei algumas coisas que merecem atenção.
A louca da casa - Rosa Montero. Sempre que abro esse livro, acabo pensando: muito interessante... A parte sobre Goethe por exemplo. Ou a da anã de rosa.
A feijoada que derrubou o governo - Joel Silveira. Fantástico. Jornalismo mais escroto possível, mas daqueles que têm tanta classe que fazem os políticos mastigarem as gravatas, por não poderem fazer nada sem cair mais ainda no ridículo.
Vale Abraão - Agustina Bessa-Luís escreveu um livro pensando "para a literatura", e não em escrever "uma história" ou "a minha história muito mal disfarçada". Saquem só o preço! É importado de Portugal.
Duas iguais - Cíntia Moscovitch. Dá pra sentir que ela sabe o que está fazendo.
O morro dos ventos uivantes - Emily Brontë, em tradução de Rachel de Queiroz. Ainda não tá no Submarino.
A tapas e pontapés - Diego Mainardi. Finalmente entendi qual é a dele, através de uma mera leitura da orelha do livro, e degustando algumas páginas internas achei que ele realiza a própria proposta decentemente. Imagino certa gente lendo a mesma orelha e cuspindo no chão - que nojo! que escroto!
A morada do ser - Marina Colasanti. Óbvio.

Agora os livros em que não se deve prestar atenção. Ignore-os. São desafetos, ok? Passe direto, não olhe na cara deles ou virará pedra.
O baile das lobas - Mireille Calmel. O pior da literatura francesa na livraria mais perto de você.
Bandidos e mocinhas - Nelson Motta (pas-ti-che)
100 escovadas antes de ir para cama - Meli Panarello (este, quando li sobre ele - e não ele - e estava escrito que a menina tinha escrito suas próprias memórias com detalhes picantes de sexo e sadomasoquismo, pensei que as escovadas fossem na... deixa pra lá).