23.11.04

Hummm. Desconfio que sou uma escritora muito muito chata. Minha loucura colorida não combina com a loucura bêbada dos outros. Intelectual bebe, né? Pois eu não bebo e não suporto bêbado. Acho bêbado um porre. Gente, que desgraça eu. Ou o mundo. O desnível é que é um saco.
Me lembra Pablo e eu. Pablo e eu só começamos a nos entender por causa de Deleuze. Antes, só nos entendíamos por alguma comunicação inconsciente. A consciente era assim:
S: Olha lá.
P: Quê.
[Aponto uma menina com a bunda colada no ar-condicionado].
S: Ela tá com fogo no rabo.
P: Ha ha ha ha. Ééé, ela tá com fogo no rabo!!
(dez minutos depois)
P: Ha ha ha, tá com fogo... no rabo! Tem que pôr no ar... pra esfriar...
(meia hora depois)
P: Ha ha ha... com fogo no... ha ha ha!
(quarenta e cinco minutos depois)
P: Hi hi hi hi.

Louco, louco, louco. O pensamento complexo nos uniu. E o cinema, claro. Se não fossem eles, jamais, jamais. Quer dizer, ele leu Deleuze lá no grupo de estudos dele e eu, prum trabalho de comunicação e psicologia. Concomitantemente, descobrimos o cinema como âncora num mundo tão louco. Hoje já ocorrem diálogos melhores, como:

P: Mas é uma troca, entende? Ele me dá E e eu fico do lado dele. Como é que posso te explicar?
S: Tentando.
P: Ele acha... que sou uma coisa que eu não sou. Quer dizer... não sei se sou... é ele que acha. E por isso... há uma troca... há uma alimentação... uma retroalimentação...
S: Pablo, não tô entendendo nada. Seja mais claro.
P: Ele acha... que eu ocupo uma certa... posição... na noite...
S: Ele acha que você é cool.
P: Isso! E que me dando E... eu fico do lado dele... de forma que ele... também mantenha... a sua posição...
S: Ah, então ele te acha cool, e te dá E para que você, sendo cool, fique do lado dele, de forma que ele também seja cool... por extensão.
P: Isso! Aêêêê.

É um exemplo. A gente parou de se julgar, ele parou de viver drogado, adquiriu alguma cultura, e eu perdi um pouco mais minha cabeça. Quando eu falo ele também tenta me entender. Conseguimos conversar, dançar, ir ao cinema, rir, e até andar de metrô. Beleza pura.