20.3.06

Dois livros bons de ler, embora profundos como um prato de sobremesa

1. Dicionário de nomes próprios - Amélie Nothomb

É a história de uma menina chamada Plectrude à qual se diz, martelantemente, estar reservado um destino fabuloso.
Comprei esse livro numa bienal e realmente gamei nele. Tem tantos elementos que me atraem que nem sei como começar. Fábula, destino, coincidências inexplicáveis. É bem traduzido pra caramba.
O problema dele são os comentários. Parece que a autora não resistiu à glosa; deixou comer solta. Notas explicativas demais ao leitor, como uma professora de primário. Se o leitor está desacostumado a ler, o livro deve lhe parecer uma redonda perfeição. Eu enxerguei isso como arestas.

2. A miniatura - Elisa Palatnik

Este é um caso peculiar. A foto de capa me chocou de tão boa, e o nome idem. Só nisso já senti a conexão com o tema do meu livro novo - homem solitário, sem emprego fixo, metódico, obcecado por uma mulher. Fui procurar as informações de contracapa e orelha, pressurosa, julgando - querendo - poder estar diante de uma obra-prima. Mas o jeito como a orelha estava escrita já denunciou: isso aqui vai ser um livro legal. Apenas legal.
E realmente o livro era muito legal; gosto especialmente da cena em que Emílio janta com Inês - "Inês odeia muitas coisas." Aí, mais adiante, tem uma frase de que já não gosto. E um pouco antes também. (Eu também odeio muitas coisas.)
Esse é o problema, a irregularidade. Cenas realmente boas e outras ah, tá, já vi esse filme ou que parecem, hum, "amadoras" talvez fosse uma boa palavra. Mas o objetivo não era esse mesmo (ser brilhante), pelo que pude sentir.

Esses dois são bons livros para dar para aquelas pessoas que você gostaria que lessem mais. Lembram um pouco o Cão de briga, porradaria filosófica roteirizada pelo Luc Besson. Assisti com o JP e tivemos o seguinte diálogo nos créditos:
- Gostei, mas sei lá - achei que iria mais fundo nas "questões filosóficas".
(Admiro pessoas que sabem colocar aspas no que falam sem ter que fazer o gesto com os dedos.)
- Sim, mas veja por esse lado: o jiujiteiro que veio pra ver o "filme de porrada" vai sair do cinema um pouco mais iluminado...