O conceito de vibe é algo interessante... a interação positiva entre público e DJ. O DJ começa a fabricar seu som na média - o público acompanha, colaborando, respondendo a cada ondulação de ritmo ou novo acréscimo - o DJ vê, resolve ver como eles vão dançar ou vibrar com determinado som, testa - o público ergue os braços, sorri, entendendo - o DJ fica estimulado, começa a se sentir inspirado, insere novos temperos na mistura, o som melhora - o público vibra, grita, aprova, ondula. A soma das partes é maior que o todo.
O povo ajuda o DJ e o DJ ajuda o povo. Um ping-pong artístico. Criação de energia. Papo místico, bicho.
Isso acontece através de concentração e acompanhamento. Agarrar num ponto e não soltar mais até o fim. Ser capaz de retomá-lo na volta das pausas para água. Déficit de atenção não ajuda nessa hora.
Acontece em outras áreas também, talvez todas, ouso dizer. Penso na literatura, com autores que alguns chamam de irregulares e outros adoram. Claro que é irregular, é humano. As experiências que o autor propõe dependem da colaboração do público - da vontade de gostar. Se você não ouvir "ahã, ahã"* na sua cabeça durante a leitura, você pode achar até o livro correto, legal, interessante mas jamais o apontará como "magistral". Ele empurra a agulha do lado de lá do pano; você enfia de volta. Os novos temperos que o autor experimenta podem não parecer os mais corretos, mas você, leitor colaborativo, entende porque ele fez isso; entende porque ele tentou. É o estilo dele, você defende. Você está concentrado e de certa forma preso; você defende a si mesmo, também.
É um relacionamento diferente de uma amizade, mas possui uma semelhança notável.
*"ahã" de "estou te acompanhando", não de "concordo plenamente".