18.6.04

Eu tinha 15 ou 16 anos quando li Amanhã será o deserto e A ordem dos futuros, ambos do Ricardo Gouveia (vejam a biografia, a parte do técnico de ar-condicionado é engraçada).
Não tem as sinopses no site, então eu explico. A ordem dos futuros é um pastiche engraçadíssimo de ficção científica, realidade brasileira e métodos revolucionários. O humor está para o Brasil como o humor de O guia do mochileiro das galáxias está para a Inglaterra. Tem seus defeitos, no entanto.
O que achei mais perfeito, e que merecia uma continuação, era o Amanhã será o deserto. Uma jovem feiticeira chamada Maya Sibylla tem uma visão, através de um sortilégio, de três escolhidos que, com ela, conseguirão deixar a Cidade: um rebelde certificado, um bicheiro careca e milionário e uma negra partidária das causas raciais, atualmente insatisfeita com os rumos do partido. Maya procura um a um, descobrindo que cada um tem uma habilidade que os ajudará a sair da Cidade. E o livro, fininho, é isso: os quatro fugindo daquele ambiente claustrofóbico, um nada a ver com o outro, alfinetando-se mutuamente; no início de cada capítulo, uma ilustração excelente, que ajuda o leitor a entrar no clima preto-e-branco. A polícia da Cidade persegue os quatro, estilo Matrix, usando até de paranormais certificados (Maya é uma paranormal ilegal). Por fim, desembocam no deserto, cheio de referências nordestinas, e quando vão atravessar o Mar de Areia, o livro termina.
São livros inteligentíssimos, irônicos, que se um adolescente lê, fica fora de si. Quando precisei de um apelido para a internet, para os chats, para a página pessoal, enfim, para tudo, escolhi Maya Sibylla.
Pois como puderam ver pelas páginas acima, ambos estão esgotados. Fora do catálogo da Editora Moderna. Sacanagem. A tal da Giselda Laporta Nicolelis eles reeditam.