31.1.05

No dia da minha formatura - oh sim, minha formatura! grande merda, apesar de muito bem feitíssima, gente esforçada - e de colegas que acham legal definir alguém pela música de Jota Quest (na moral na moral) ou Capital Inicial (o acaso vai me proteger) ou Barão Vermelho ou Legião Urbana, fora outros que escolheram Chaves ou qualquer palhaçada do gênero, ou outros ainda, que pegaram Secos e Molhados, Mutantes ou Raul Seixas, um pouco mais passáveis, sendo a minha preferida, depois do meu Orbital, justamente a do meu amigo que assumiu a vilania do comunicador e pôs a trilha daquele James Bond em que o homem mau é um magnata das telecomunicações... e o professor que dizia não baixem a cabeça! enquanto ninguém além de mim tinha coragem pra dispensar o fotógrafo que impingia poses e sorrisos, enfiando um canudo na mão das pessoas para depois extorqui-las, já com a foto pronta - bem, no dia de minha formatura, passo a noite empilhando caixas e mais caixas. Com pausas estratégicas para Alan Moore e sua Prometéia (é a estória em quadrinhos mais übermegafoda que já li... e tem escaneada no emule, e no google... procurem) e uns beijos, tenho me dedicado não ao mero encaixotamento, mas à catação de lixo. Sim, porque vou de uma casa de 3 quartos para uma de 1, sendo estes três quartos um pouco maior ainda do que se imagina - 240m2. Dentro da casa de 3 quartos tem muitos armários, dentro dos quais tem sacolas, pastas, caixinhas e malas, dentro das quais se encontram coisas que devo decidir se me servem ainda ou já não mais.
Se isso fosse até uns 12 anos de idade, a primeira vez que me mudei, eu diria: não quero deixar nada! E carregaria cada pedacinho de giz de cera quebrado e manchado como um troféu. Com medo de perder a minha história, a minha identidade. Mas como disse, já enfrentei o medo - hoje tenho medo de me deixar prender pela minha história. Jogo fora as figurinhas repetidas, fica a amostragem do que eu fui - ou seja, uma dentre quatro agendas obsessivamente organizadas (que eu tinha pavor daquela presepada de agendas cheias de fotos, clipes, versos rosas, tão gordas que o velcro não fechava, precisava de elástico); uma dentre quatro filipetas da festa Bunker de 2 anos; duas dentre oito matérias da 7a série. Logo, apenas uma folha de lembrança será necessária; a história mais comprida tem que ser mais resumida, que o HD não aumenta de tamanho.