25.2.05

I never knew Portuguese could be so beautiful

Aos que não acreditam (ou aos que acreditam) no poder do vernáculo, recomendo a leitura de Vale Abraão, da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís.
O que são os achados lingüísticos desta mulher (diria insights, porém estou a louvar o português
no momento)?
Posso dizer que é um livro extremamente sincero ou muito do mentiroso. E muito poderoso.Esse trecho fez-me dar risada no meio do metrô:

"Só confiava em Pedro Lumiares, e pedia-lhe humildemente que se ocupasse de Ema. Vagamente, deixava perceber que era meio frígida e não era ameaça para os casais bem ligados. Pedro ouvia-o com alguma reserva; os princípios incoerentes que Carlos manifestava não deixavam de o preocupar.
- Que quer dizer com os casais bem ligados? Por acaso o casamento é uma maionese? Deve ser. O dele destalhou e não sabe o que há-de fazer."

Pior é que a estória é também completamente absorvente. Oh, não - nada acontece. Stay away se queres "acção". Uns poucos factos que podem ser chamados por esse nome. Um casamento, umas traições, um punhado de mortes, um defloramento. De resto é tramóia, aconselhamento, distracção, abstracção, small talk. Deliciosa small talk. (Fora a heavy-talk, que parece a dos meus personagens. "oh, até parece que alguém diria isso na vida real" - e daí? isso é o que deveria ser dito.)
Já andava a fim de comprar algum livro de lá. Agora sou meia-portuguesa, meia-brasileira (é cobrado o preço da pizza de mais valor). Calhei de achar esta verdadeira jóia na livraria de ricos, que serve só para que eu manuseie os livros (pausa para risada maléfica) que compro pela rede.