12.4.05

ai que burro, dá zero pra ele

Faz muito tempo, eu tinha o quê? 14 ou 16 anos - lembro que era par, façam as contas vocês que sabem aritmética discreta - lançaram I think I'm paranoid, do Garbage, na MTV e nas rádios. Eu traduzi o pouco que eu entendia da letra mentalmente: acho que sou paranóica. Eu achava mesmo, e era. Pouco tempo depois li a seguinte, hum, notícia no RioFanzine: que no lançamento do cedê numa boate, as meninas tomaram o centro da pista gritando em português acho que estou paranóica. E aquilo me soou estranhíssimo. Pra mim só se podia ser paranóico.
Ser ou estar, eis a questão. Questão que ocupou meu cérebro por um bom tempo. Novos dados vieram esclarecer o assunto: que certas drogas deixam a pessoa paranóica, durante ou depois, e no caso da boate citada era bem possível que as pessoas estivessem paranóicas. Mas no meu caso eu era paranóica, e se me alienasse demais dali a pouco estava evitando pisar as linhas da calçada, ou andando só no preto, ou achando que estava pressentindo a minha própria morte ou coisas assim; ou seja, estaria sendo paranóica por demais.
Quer dizer, eu gostava, até aquele momento, da distinção ibérica de ser/estar para to be. E, se não passei a desgostar, percebi como ela era profunda. Eu podia continuar sendo paranóica, desde que não estivesse sempre paranóica...
Papo de paranóico.