8.4.05

you don't love me, then hate me

Reparei, engraçado, que voltei a ignorar os caras-que-mexem-comigo-na-rua como no início. Depois de passar pelas fases cara de nojo/amarrada, gestos obscenos, respostas à altura e socos na cara, estou de volta à indiferença.
No início não era bem indiferença, eu ficava intimidada - eu tenho 12 anos, porra! - dava vontade de falar. Hoje estou enfastiada e, admito, não consegui pensar numa solução melhor.
O que melhor funcionava eram os soquinhos. Tudo começou num dia extremamente quente e um gordo mórbido que sussurrou numa voz pretensamente sensual "que calor, meu amor". A untuosidade daquela cantada, que ainda por cima, rimava, pôs uma mola no meu braço: tasquei-lhe um pequeno soco na bochechona. Precisamente, um jab de direita.
Pacifismo é legal, mas tem situações que ele não resolve. Aliás, tenho a impressão que geralmente a "paz" é implantada onde devia haver guerra e a "guerra" acontece onde devia ter paz, mas isso é outra história. Passei a usar da violência como resposta à violência de casos extremos, como os de caras que falavam obscenidades pesadas depois de cruzarem a calçada para passarem bem perto do seu ouvido. Teve um cara que apanhou não só de mim como de outros dois - baixinhos, normais, encostados num muro - que também ouviram o que ele disse. Credo, essa cidade anda muito violenta.
Se a cidade anda violenta, o negócio é ser pior. Nunca fui assaltada. Quer dizer, quase fui, mas botei pra correr; eram dois pivetes. Foi como bater no amigo do teu irmão menor que tenta te ver pelada.
Querem saber por que eu parei com os tão eficientes soquinhos? Bem, a gota d'água foi um um soco que dei num cara que começou a falar mil putarias desde que me viu vindo no sentido contrário. Soquei; ele parou e sorriu, como se estivesse esperando mais alguma coisa. Achei que talvez o soco tivesse sido fraco e caprichei mais num segundo, mas ele sorriu mais ainda, a cara vermelha. E descobri que estava sem opção: ia fazer o quê, dar mais outro soco nele? Fui embora puta da vida, pensando: porra, que nojo, não era pra você gostar.
E isso já tinha acontecido antes, mas eu não tinha acreditado. Um tinha acariciado o rosto recém-socado com uma expressão enlevada; outro me olhou como se dissesse como é que você sabia? Foi o último, o do sorriso, que me confirmou que sim, senhores: existem masoquistas andando em nossas ruas. Deveras. Eles querem atenção. Qualquer tipo de atenção. E eu é que não vou dar.