Arquivos do processo
At first I was afraid
I was petrified...
A primeira vez em que "terminei" uma versão preliminar do A feia noite foi em 21 de junho de 2002. Está lá, a data do arquivo do Word. Eu tinha 19 anos.
Daquela vez, eu tinha me perdido porque me preocupei com excessivas descrições e explicações que estragavam a história.
Agosto de 2002. Eu decidi que precisava incrementar a "cena do hotel" - apart-hotel para qual Francisco iria depois de ter se separado, e onde encontraria Maria Luiza, hóspede evidentemente desejada por todos os homens recém-separados. E isso serviria para colocar Francisco contra a parede: e aí, tá comendo ou não? Ele fugiria para um apartamento emprestado - com ela - e então começaria de verdade a história.
Too dead for me.
Setembro de 2003 (20 anos). Havia uma personagem, Flora, irmã de Amanda, que funcionaria como dedo-duro de Francisco, acusando-o de maltratar a irmãzinha. Era até legal: ela era atriz de teatro, e isso era usado na história, tragédia grega et cetera. Mas Flora caiu fora, infelizmente. Outra coisa notável era que eles falavam demais sobre besteiras - o que, se no No Shopping era fundamental, adolescentes sem ter o que fazer falando besteiras, neste era ruim, sem perdão. Já estavam presentes, no entanto, vários trechos que, modificados, passaram a integrar o livro final - o de hoje. Acho que foi mais ou menos nesta época em que tive o estalo de Francisco passar a ser o filtro (a "primeira pessoa") da história, e não Maria Luiza.
Get your ass back to work.
Em 2004 (21 anos), eu tive a certeza de que este livro seria terminado. Percebi que era possível mostrar os grilos de Francisco a partir do próprio comportamento dele, já todo marcado por pequenas concessões e grandes sacrifícios, todos das coisas "erradas". Toda a cena do hotel já tinha desaparecido em fevereiro de 2004.
Em outubro de 2004, nova crise. Meu livro tinha virado uma pocilga repleta de personagens Fellinianos. Tinha me empolgado com as referências a Alice e exagerado. Pode parecer muito bom, mas não, não é.
Fui cortando personagens e reduzi ao livro ao que é: um encontro entre duas pessoas. As outras são incidentes, não regra.
Bem, agora ele está terminado. Falta só eu me desprender dele, parar de cutucar a ferida.
Tudo porque quero escrever o que tenho que escrever.