22.4.05

Serendipity é o "dom de fazer descobertas felizes por acaso". Veja bem, eu não sabia bem o que era serendipity até começar este post. Sempre tinha ouvido falar que serendipity era "coincidência", mas que coincidência era uma palavra inexata; vendo que coincidência era uma palavra inexata para o que eu queria dizer, e "sorte" também, fui procurar o significado de serendipity e acabei aqui fazendo este parágrafo.
(O que estava me impedindo de postar era justamente a falta da palavra para dar forma ao que eu queria dizer. Muitas vezes isso exige que eu crie palavras, ou tome emprestado as de outras línguas, ou use palavras emboloradas que as pessoas espirram e se coçam todas quando ouvem - irmãs de "vergastar", vide abaixo a crítica de Duas iguais.)
Domingo eu tinha prometido almoçar com a minha mãe. Fui parar, de alguma maneira, num restaurante de frutos do mar em Niterói, com duas turistas suecas, um cara de calção de lycra cerúleo, um bêbado inconveniente, um adolescente dentro da concha devido às suecas e ela, minha mãe. Turned out que, além de ser arrolada como cicerone das suecas, descobri que o dito é dando que se recebe, engrolado justamente pelo Bêbado Inconveniente, imagine só, era de São Francisco, que inspirou parcialmente meu personagem do livro chamado Francisco (duh), cuja profissão é... consultor político. (Mais sobre isso no post do dia 26 de fevereiro).
Levanto o cartazinho oposto: EU AINDA NÃO SABIA! Estava achando que tinha inventado uma conexão maluca, que absurdo, transformar um santo em consultor político.
Mais tarde (quarta-feira) abro a edição da Nova Fronteira de As Flores do Mal, Baudelaire (dislexia maldita, confundo Baudelaire e Baudrillard) pra ver se é bom. E é! É bom! Cacete, muito bom! E meu livro usa as mesmas tintas - como um azul-cobalto na mão do Monet e um azul-cobalto na mão do pintor do Largo da Carioca. Romântico? indago eu. Não. Também, mas... grotesque.
Vísceras. Depois de me fartar, toda empastelada e tonta, viro o livro de costas e dou de cara com este-livro-mistura-grotesco-e-romântico...
Eu diria que você sabe que está acertando pelo número e grau de serendipity que começa a te acometer. E isso não só na literatura, mas vá lá, pelo menos na literatura.