30.7.08

beautiful music

Tenho uma tendência a prestar atenção em letras que só pode ser resquício de segundo grau ou de ouvir rock. Ninguém mais presta atenção nisso, que eu saiba. Ainda mais na música eletrônica, na qual o que importa (teoricamente) são as bases, a ambiência, o groove. Mas uma letra esperta faz você prestar atenção na música e pode fazer com que ela extrapole as pistas, virando um hit pop.
Os brasileiros têm feito boa música eletrônica, inclusive nas letras quase sempre em inglês. É impressionante como as músicas brasileiras são exuberantes e evocativas como... ok, como uma floresta tropical. É beautiful music. O canto mavioso do uirapuru (que dá um minimal, ouve só). A mim lembra João Donato - e parece mesmo uma bossa supernova, dessa vez em cima da música eletrônica.

Mas tenho percebido que dois temas dominam. As músicas e remixes do Gui Boratto geralmente têm uma letra e um clima stalker/capacho/borderline.

I gave you
all I got
'cause I could
never
give you up

Haunting - Eyerer and Chopstick (remix do Boratto)

I just want to be like you
I don't care what people say
I just want to be myself
I am what you want me to be

(é a única letra da música, repetida à exaustão)
(Like you - só do Boratto)

E as músicas e remixes do The Twelves têm na letra uma abordagem quase cínica, mas apaixonada e bem-humorada, à cultura de carões e fotologgers, geralmente sem especificar o gênero do interlocutor (funciona com ambos):

i know you think about
how you like to be seen
by everyone around
you're so pretty it hurts

(da demo When you talk)

when you make out with two girls at the door
i think it works for me
when you pass out on the bathroom floor
i think it works for me

(da demo Works for me)

Falar com a geração dançante é fundamental para atingir o sucesso. E esses caras estão fazendo isso.

23.7.08

Família que rouba unida

Que bom que no Brasil ainda existe a tradição de família. Família-quadrilha. Ao mesmo tempo em que essa excelente tradição é mantida, abre-se caminho para as minorias, porque não importa (mais) se o filho sai mulher ou gay: o importante é continuar explorando o curral eleitoral que o pai construiu. Doutrinados desde pequenininhos - "olha, nossa família é a maioral, a mais esperta, não leva bola nas costas, tá entendendo?" "a gente aqui tem que se proteger" - os meninos e meninas crescem prontos a cumprir sua missão: arrumar um namorado ou namorada que entenda a missão, casar na capa de Caras e procriar um laranjal inteiro. Caso os negócios estejam indo excepcionalmente bem, pode-se adotar algumas crianças, que serão tratadas a pão-de-ló para evitar o fiasco da ex-mulher do Pitta.
É por isso que esse povo não se divorcia, aliás. O melhor é manter as aparências (e algumas cachorras acessórias).
A gente está no feudalismo, não se enganem. Só que nossa Lady Macbeth é Rosinha Garotinho.

21.7.08

Estava pensando outro dia nos meus verdadeiros motivos para não ser nada promíscua: padrões muito rígidos. Não sei se elevados, porque não têm nem pé nem cabeça.
Homem pra mim não pode nunca, má nunca-jamais ter feito análise. Pelo menos por vontade própria (vai que recebeu uma ordem judicial para fazer um anger management). Homem pra mim tem que acreditar que não há nada que um analista não faça que um chopinho com os amigos não resolva. Mas se ele tiver um grupo de apoio disfarçado tipo o do Charlie em Two and a half men (Elvis Costello, Sean Penn e Harry Dean Stanton tomando uísque e fumando charutos) não só passa como acho ótimo.
Outros random facts:
- Não gosto de homem magricela, branquelo ou sem um pêlo nos braços.
- Gosto de nerds que tenham praticado esportes em algum momento da vida.
- Doces são um caminho para o meu coração, especialmente se ele acertar do que eu estava precisando naquele momento. (No momento estou muito precisada de um bombom Lindt.)
- Detesto elogios gratuitos.
Devo ter beijado cinco pessoas na vida.

16.7.08

Acontece tanta coisa horrível nessas Crônicas Marcianas. Às vezes parece Alice no País das Maravilhas, mas sem a fofura. Me fez pensar porque as pessoas escrevem ficção científica. Claro, há aqueles que acreditam estar dando um alerta minucioso e humanizado para um medo que, em sua cabeça, muita gente também tem - e pretendem quebrar o orgulho do homem, fazê-lo evitar aquilo. Outros, como o PKD, estão tentando dar uma forma artística à sua maluquice. Outros, como Júlio Verne, estão confessando sua fé na técnica e no fato de que podemos chegar lá. E assim por diante.
Mas o simples fato de humanos produzirem coisas como ficção científica desse nível (arte) já é uma profissão de fé na humanidade. Se o Ray Bradbury não acreditasse em humanos - nos que lerão aquilo e não tomarão como advertência, mas como ficção mesmo - não teria escrito Crônicas Marcianas.
Quando eu era criança achava que cada scifi expressava um medo diferente do futuro; então só queria ler as que correspondessem aos meus medos, para me preparar (eu também queria dominar o mundo). Hoje vejo que você não precisa tratar scifi como advertência, e nem concordar com o autor para compartilhar da visão dele, porque às vezes nem ele tem uma visão só, fechada; é um recurso artístico, um artifício literário para expressar uma visão interna. E não uma visão do presente, ou do futuro, nem de nada.
E vou contar um segredo. Às vezes nem o próprio autor concorda com o que está expresso ali. A história simplesmente o levou para aquele canto. Acho isso fantástico. Não sei se por ser um grande ato de desprendimento, por ser uma loucura (do tipo extremamente humano), ou ainda por outro motivo que não sei pôr em palavras. Não sei.

(E o mesmo vale para toda a boa literatura não scifi, claro.)
Ray Bradbury é genial.
Li o Crônicas Marcianas inteiro anteontem. Há muito tempo que não fazia isso, ler um livro todo no mesmo dia.
Já estou com o Fahrenheit 451 aqui na estante.

Botei o link do Fahrenheit para o Submarino porque se você comprar por aqui, eu ganho um troquinho. Mas tem em sebo também. O Crônicas é fácil de achar - e adorei a tradução da Círculo do Livro; já o Fahrenheit é mais difícil. E custa onze reais o novo, então...

14.7.08

Mais Rio bashing e algumas conclusões

Sobre o post do chato, cheguei à conclusão de que é melhor parar de assinar o jornal ruim (e manter o bom). Afinal, quando cada pessoa que tentava adivinhar quem eram "as duas colunistas" citava colunistas diferentes (e com a carapuça servindo!), você pensa: pra quê se irritar? Pra quê premiar uma colônia de chatos? Que melhorem.

Também cheguei à conclusão de que, por ora, é melhor continuar por aqui. Ainda não pretendo ter filhos - o que seria um grande problema, pois o Pat Morita já morreu e como eu criaria meu Karatê Kid? -, estou fazendo o que eu gosto sem precisar fazer compromissos antiéticos nem puxar o saco de ninguém que eu odeie - sou groupie somente dos meus amigos - e minha vida está razoavelmente organizada, com casa, comida e roupa lavada. Quanto às coisas irritantes, vou ter que assumir uma atitude um pouco mais faroeste para não precisar engolir trinta sapos toda vez que descer à padaria. Chega de ser boazinha: vou ter que pagar na mesma moeda a quem tenta forçar seus supostos privilégios em cima de mim.

O termo domingueiros também se aplica a clientes de restaurante: gente que não fez reserva nem pretende respeitar fila, porque se acha especial demais pra isso. Ontem uma menina de uns dez anos furou a fila do restaurante a quilo que freqüento. Chamei-a à ordem usando as palavras "mocinha" e "por favor" e, quando ela se encaminhava ao devido lugar (atrás de mim), sua mãe, à minha frente, chiou. "São duas filas, uma pra cada balança" e urgiu a filha a voltar ao lugar anterior. Eu retruquei calmamente que não, que era fila única, e quando a mãe insistiu, eu concordei com ela - e levei meu prato para a segunda balança, furando as duas segundo as regras das próprias. Como era de se esperar, a mulher ficou possessa, esbravejando sobre a minha falta de educação em cortar o privilégio que ela tentava arrogar aos seus. Não discuti mais, pesei e fui comer em paz.

Agora vai ser assim, sonso power.



Minhas conclusões são temporárias. Assim, se o mundo mudar, eu mudo com ele. Se eu mudar - seja por dentro ou de cidade -, novos ajustes serão necessários. No momento eu preciso relaxar da forma que me for possível dado onde moro.

11.7.08

Ah, mais uma daquelas fases de coincidências.
Abri um livro no sebo hoje e seus capítulos tinham o nome de músicas do Marumari que eu adoro -- a saber, Ylla e Way in the middle of the air. O livro é Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury.
O conto abaixo, Segundo andar, é sobre uma moça que é a única que ainda resta a morar num prédio de apartamentos - e não quer vendê-lo de jeito nenhum. Quando ouviram isso, não faz nem uma semana, me mandaram ler o conto de Faulkner, Uma rosa para Emily (ainda não li). Acabo de vê-lo citado (e linkado) no blog do Goiaba.
É a primeira vez que choro de lentes de contato. Surpreendentemente, elas não escorrem junto com as lágrimas. Esse livro que estou lendo freqüentemente dá vontade de chorar, portanto acabei tirando ele da mochila. Afinal, quando você chora em coletivos, as pessoas acabam reparando e perguntando: “Que foi” ou decretando: “não chora não”; você dirá, como desculpa, de que “é um livro muito bonito”; então vão ver que você está lendo um livro, e vão perguntar “que livro é esse?”, e você vai responder erguendo a capa: “Escola para Bobos, de Sasha Sokolov”. E a pessoa dirá “aam...”
Nabokov elogiou esse livro. Hoje ele existe apenas em sebos.

10.7.08

A melhor maneira de manter a forma é saber que a barra de chocolate mais próxima se encontra a três quarteirões.
Mesmo que você resolva ir buscá-la, vai gastar as calorias dela só para trazê-la até o lar. (Sou muito pão-dura para pedir a domicílio.)
O novo chato

Este texto é inspirado em duas colunistas. Mas vejo esse fenômeno se alastrando em ambos os sexos e em todas as profissões, então vamos colocar no masculino.

- Ele faz um tipo intelectual, se acha um “especialista” em pelo menos uma coisa (pode ser mulher, música, informática), mas age como se soubesse muito mais do que realmente sabe. Por isso, freqüentemente diz besteira. E detesta que apontem isso, porque no fundo se acha sexy, talentoso, poderoso e imprescindível.

- Quando contestado – ou mesmo se imaginar que poderá ser contestado --, vira o Super Explicadinho: explica tintim por tintim, com toda civilidade e educação, o que realmente quis dizer quando disse que... (zzzzz....)

- Afirma freqüentemente em público que não gosta de algo que todo mundo gosta, porque acha que assim impressiona.

- É deslumbrado com coisas passageiras e de qualidade no mínimo duvidosa (Second Life, Miss Kittin etc.)

- Ele procura mostrar uma face de extrema tolerância e compreensão a tudo. Portanto, nunca emite uma opinião de verdade. Quando tenta fazer isso, exibe inadvertidamente algum preconceito bem tacanho (como “drogados merecem morrer” ou “o primeiro da classe é quase sempre um robô dopado”).

- É aclamado pela parcela do público de pessoas igualmente sem-sal, e por isso acha que está na boca do “povo”.

- Está sempre tentando fazer o seu nome. Quando faz seu egosurf semanal e vê uma crítica à sua pessoa, ele não resiste: responde.

- O Efeito Xuxa: renega o seu passado e procura escondê-lo. (A colunista que tenho em mente já escreveu contos eróticos para uma revista masculina no início da carreira. Péssimos, por sinal.)

- Fala da vida pessoal, nem que seja por meio de insinuações misteriosas. Aliás, o novo chato adora fazer um mistério.

- Também é feio por fora. Não sabe brincar com isso e tem complexo.

Em suma, o novo chato é a própria assessoria de imprensa. E faz muito gosto em sê-lo.

Tenho certeza que você encontrou muita gente que se encaixa nessas características. Agora, exercício zen. Pense em alguns anti-chatos, especialmente os que escrevem. (Letra A: Antônio Prata... Artur Xexéo...)

9.7.08

Mais conto

Eba, terminei mais um conto. Este se chama Segundo andar. Vai um trechinho:



suish. suish.
varria Susana os nanoladrilhos hexagonais. Engastados um a um em sua perfeição mosaica, fariam qualquer servente entrar em alfa. E Susana não era qualquer servente. Era a servente Zveiter. Mandara bordar o nome na roupa azul. Amarrara um lenço de dona maria na cabeça, floridinho. Uma mecha esticada corria a testa em diagonal como uma fita loira.
Ergueu a cabeça ainda em tempo de ver alguma coisa que partia soltando as mãos da roda do portãozinho de ferro. Claro, quem esperaria ver uma branca fazendo serviço daqueles. Devia ser a curiosidade da vizinhança. Uma versão da casa mal-assombrada do bairro, com a princesa aurora em vez da velha dos gatos. Quem entra ali, diziam, fica pobre. – Mentira, dizia outro, fica é rico. - Mas leproso, complementa outro.

8.7.08

A vida aqui é difícil porque para mil coisas erradas e irritantes que vejo há apenas uma louvável e que aquece o coração; como se não bastasse, há complacência e compreensão para com as coisas erradas e há despeito e vontade de estragar as coisas bonitas e práticas.

Hoje, por exemplo, fui ao centro. Saí em plena Uruguaiana: calor, poças de esgoto, paralelepípedos, poluição audiovisual (até nas roupas) e uma terrível propensão a perturbar a paz dos poucos que conseguem obter alguma. Há os que andam devagar, num ritmo arrasta-pés que não expressa calma ou tranqüilidade, mas puro espírito-de-porco em bloquear escadarias e calçadas.

Um senhor à minha frente na escada, retido por um casal espalhadaço, resmungou alto algo sobre gente lerda depois de ter pedido licença sem resultado. Enquanto finalmente dava passagem, o homem do casal (um homem muito feio e muito bochechudo) virou a bochecha devagar por cima do ombro, com os olhos esbugalhados de contrariedade e o queixo naquele ângulo de 120 graus que todo carioca utiliza quando lhe chamam a atenção, dizendo à mulher: "DEIXA ELE PASSAR. ELE TÁ ESTRESSADO."

Ah, estressado. Estressado é o novo histérica - com a vantagem de ser unissex. Aquilo de que te chamam quando não têm qualquer razão, mas querem que você estoure para obterem alguma. Aliás, guia para lidar com epítetos como estressado e histérica: não caia na pilha. Conte até três e diga o mais devagar e serenamente possível, de preferência com expressão de beato: sim... isso mesmo... estou es-tres-sa-dís-si-mo. Agora... fazendo o favor... dá para o senhor tirar o carro da frente da minha garagem? Quem vai espumar de raiva é ele, e vai ter de fazer o diacho da "coisa certa".

Pois é, fico encantada com pessoas ranzinzas. É um dos meus soft spots. Não pessoas distímicas que reclamam de qualquer coisa, mas as que parecem genuinamente incomodadas por alguma coisa com que mais ou menos concordo e sabem se sentir bem quando aparece a oportunidade. É um grande passo em direção a ser minha alma gêmea (não literalmente... - oh, foda-se), porque quer dizer que a pessoa se importa. Como eu.

É essa a minha grande doença: eu me importo. E eu gosto disso. Me aperta o coração ver gente que se importa deixando de se importar de tanto ser chamado de estressada e histérica quando reclama. É um fenômeno muito comum aqui no Rio. Vejo as pessoas se fazerem de cegas, surdas e mudas - inclusive para os próprios atos de pessoa-que-já-não-se-importa - para dizer que o Rio continua lindo, que não está tão ruim assim... Só uns poucos bravos sobrevivem a essa anomia.

Como se não bastasse, também sou esquizóide. Deixo para a Wikipédia defini-lo, mas basicamente detesto meu espaço pessoal invadido, e minha reação a elogios ou insultos é ou invisível ou imprevisível; um comentário que ouço bastante é puxa, você é bem tranqüila em relação a isso, outro é olha para mim enquanto fala, outro ainda é te vi outro dia na rua e você nem me reconheceu (pois é, amigos, eu vos amo, apenas sou terrível para demonstrar, liguem para mim e marquem coisas e compareçam.)

Mas ô combinaçãozinha fodida. Isso quase me faz acreditar em Deus - um Deus vingativo que mandou algum filósofo existencialista reencarnar no meu corpo, no Rio de Janeiro, sob a gestão Cesar Maia.

Pois então. Parece que eu gosto de reclamar? Foi mal. Não gosto. É que aqui nessa cidade há vastíssimo material para fazer isso. Preferia que não fosse assim. Mas as pessoas de cima e de baixo não estão colaborando. Pelo contrário, estão cagando em cima da cidade. E fico cada vez com mais vontade de me evadir. Não é mais uma fantasia romântica. Estou mesmo procurando um jeito de emigrar, mesmo sabendo que nenhum lugar é perfeito e que os creeps só mudam de patologia.

De qualquer forma, hoje, depois de ver amostras de todas as idiotices do mundo, no caminho de volta para casa vejo uma moça com um estojo de instrumento de cordas às costas conversando e sorrindo para o seu avô enquanto andam por uma calçada não muito esburacada. E isso me dá um pouco de esperança na humanidade. Claro, podia não ser nada daquilo, o cara podia ser professor ou amante dela (ou professor e amante dela), mas mesmo assim foi uma abençoada reunião de coisas legais.

5.7.08

Superfantástico

Eu gostaria de gostar muito de algum grupo musical nacional. Mas há apenas alguns que, no máximo, gosto e não amo. Pior: me peça exemplos e eu não vou saber dar nenhum de pronto.
Na minha faculdade, quase todo mundo idolatrava Los Hermanos. Eu olhava para aquilo com a cabeça inclinada e um princípio de beicinho, quase com inveja. Eu mal tolerava Los Hermanos. Porque já detestava Chico Buarque, e vinham quatro idiotas fazer cover rock dele? Eu hein. Mas me calava, porque só de ouvir falar de Los Hermanos, eles faziam essa cara - de quem acalenta um amor há muito perdido, ou uma nostalgia qualquer. Os olhos deles ganhavam um brilho de lâmpada de mercúrio avistada no Parque do Flamengo às três da madrugada passando de ônibus. Acho que hoje tive um vislumbre da razão disso: Los Hermanos parece música infantil.
Todas as músicas deles lembram Superfantástico, do Balão Mágico. Não o refrão, a parte em que eles cantam "superfantasticamente".
Que maldade, Simone. É batata! Pode baixar Ana Júlia e Superfantástico e conferir.

4.7.08

De repente me deu uma angústia de limpeza.
(Isso mesmo, tirei a imagem de fundo.)

2.7.08

Karma ruim *

Na rua agora tem um cartaz mais ou menos assim: "Sorte sua de morar aqui" - e embaixo - "O Rio é para sempre". Para simbolizar isso, emplastaram um rapaz e uma mocinha extremamente pálidos e tatuados cada qual sobre um ponto turístico; presumo, então, fazer parte do público-alvo dessa campanha, gente que não vai à praia. A mensagem é clara: "não debandem, clubbers".
Os detalhes são importantes. A brancura dos modelos é irreal, com o flash estourado de divas de fotolog, e estão ambos chapados sobre um fundo turístico obviamente clicado separado. A tatuagem de cada um, também claramente feita em Photoshop, repete o ponto turístico atrás deles - quer dizer, o Rio é para sempre, não sai nem a laser. Uma pena, porque como tatuagem (como quase toda tatuagem) ficou cafoníssimo.
Não parece uma campanha publicitária, parece mais uma ameaça - ou uma urucubaca. Como se quando você se mudasse pra São Paulo, a cuca e a Mulher Melancia fossem te pegar. Não sei como classificar a idéia dessa campanha. Ilha de Lost? Ame-o ou deixe-o? Desespero? Afinal, se fossem fazer uma campanha baseado no que a cidade realmente tem a oferecer, aí seria preciso muita criatividade. Minha sugestão: o slogan "onde os fracos não têm vez" e um tema de faroeste. As imagens poderiam ser de uma carroça desgovernada que vai atropelar uma velhinha; de uma bala perdida se aproximando de um duelista ("aqui nem sempre o gatilho mais rápido vence") etc. E embaixo: "E aí? Vai amarelar?" ou "Se não agüenta, por que veio?" ou ainda "Se não tem colhões, muda para São Paulo". Aí era só legalizar o jogo e a prostituição e viva las vegas.
Sei que desde que vi o primeiro cartaz tenho andado com um puta azar. Quer dizer, tudo o que detesto nessa cidade começou a me acometer. Quase fui atropelada duas vezes por pura impaciência dos motoristas, tive que dar um tapa num imbecil na rua (eu não sabia que minha esquerda era tão sinistra), duas pessoas furaram minha fila no banco e, quando chegou a minha vez, o caixa que era para me atender saiu pro almoço; o que sobrou errou a operação (transferência de uma conta para ela mesma, já ouviu falar?). Tive outras cadeias de azar mas é melhor nem recordar. Vou ficar mais em casa esses dias.

*apud Sharon Stone