O novo chato
Este texto é inspirado em duas colunistas. Mas vejo esse fenômeno se alastrando em ambos os sexos e em todas as profissões, então vamos colocar no masculino.
- Ele faz um tipo intelectual, se acha um “especialista” em pelo menos uma coisa (pode ser mulher, música, informática), mas age como se soubesse muito mais do que realmente sabe. Por isso, freqüentemente diz besteira. E detesta que apontem isso, porque no fundo se acha sexy, talentoso, poderoso e imprescindível.
- Quando contestado – ou mesmo se imaginar que poderá ser contestado --, vira o Super Explicadinho: explica tintim por tintim, com toda civilidade e educação, o que realmente quis dizer quando disse que... (zzzzz....)
- Afirma freqüentemente em público que não gosta de algo que todo mundo gosta, porque acha que assim impressiona.
- É deslumbrado com coisas passageiras e de qualidade no mínimo duvidosa (Second Life, Miss Kittin etc.)
- Ele procura mostrar uma face de extrema tolerância e compreensão a tudo. Portanto, nunca emite uma opinião de verdade. Quando tenta fazer isso, exibe inadvertidamente algum preconceito bem tacanho (como “drogados merecem morrer” ou “o primeiro da classe é quase sempre um robô dopado”).
- É aclamado pela parcela do público de pessoas igualmente sem-sal, e por isso acha que está na boca do “povo”.
- Está sempre tentando fazer o seu nome. Quando faz seu egosurf semanal e vê uma crítica à sua pessoa, ele não resiste: responde.
- O Efeito Xuxa: renega o seu passado e procura escondê-lo. (A colunista que tenho em mente já escreveu contos eróticos para uma revista masculina no início da carreira. Péssimos, por sinal.)
- Fala da vida pessoal, nem que seja por meio de insinuações misteriosas. Aliás, o novo chato adora fazer um mistério.
- Também é feio por fora. Não sabe brincar com isso e tem complexo.
Em suma, o novo chato é a própria assessoria de imprensa. E faz muito gosto em sê-lo.
Tenho certeza que você encontrou muita gente que se encaixa nessas características. Agora, exercício zen. Pense em alguns anti-chatos, especialmente os que escrevem. (Letra A: Antônio Prata... Artur Xexéo...)