26.12.05

Stay ugly



Com meu novo corte de cabelo não dá pra ver meus olhos fácil.

25.12.05

Ganhei duas irmãs de natal. Já prontas, crescidas, que não tenho paciência com criança. Importadas de Curitiba, ainda por cima. O problema, claro, é elas sentirem saudades de Curitiba. Quanto mais tiverem contato com o Rio de Janeiro, mais periga quererem voltar. Estou tentando mostrar algo de louvável sobre esta cidade a elas, mas acho mais fácil é eu acabar me mudando pra Curitiba.

23.12.05

Sudoku chegou ao Brasil. E eu achei que fossem trocar o nome, pelo menos.

22.12.05

relendo

Algumas pessoas que escrevem recomendam ler seu texto em voz alta para ver se "soa bem". Por quê? Porque isso faz com que você absorva o texto sem a carga da idéia que custou tanto pra ser posta no papel, te distancia do texto o bastante para você saber o que está esquisito. Só que isso não funciona pra mim. A minha voz, mesmo não sendo a mais radiofônica, é emitida (quando é) no ritmo dos meus pensamentos (o que muitas vezes me faz atropelar a frase e até trocar palavras de lugar, dislexicamente). Então, o que ouço quando leio em voz alta é uma voz humilde recitando em ritmo de pensamento, nada muito diferente de ler direto.
Então comecei a fazer versões dos trechos. Traduzir para o inglês. Isto sim não é automático e me faz pensar em todo o sentido de cada palavra. Pode até não sair perfeito mas o objetivo não é esse, mesmo.

I could wait for some stray bullet to come cross me. I guess they actually can?t be named stray at all - they're stubborn. Self-willed, an opposing will; and if so-called stray bullets won't find even the one who their master means, so much for one who yearns to be found by one of them. The same applies to serially violated traffic lights, like a take-off run. It could work, it could, but it would be very selfish of me towards the driver.

My hair was a thick ivy opening up in branches, fed off by the heat, climbing my face, twisting around my lashes and crawling about my neck. I would pick it off with my hand, usedly-to. They'd come back soon, ropes entering the ear, the eye, the breasts, tickling, choking, I'd rip'em off, they'd come right back.

Is is possible to derive lots of implications, some serious, some funny. All interesting, no doubt. But nothing he did not know about, having sold his soul oh so long ago. Stopped asking why this world is so damn cruel. He was professionally evil and great doing his job. Yeah, in the real life department he'd get his ass kicked all the time for trying to achieve milimetric decency. A self-inflicted karma. His psychiatrist called that 'a positive searching'. So that he wasn't a monster by personal talent, just in office.

21.12.05

Meu livro não é Brasília

Acho que quando os legistas se aproximarem do meu livro novo com seus instrumentos, vão ficar seriamente encafifados. Eles buscarão alguma prova de crime, algo como um sinal de evolução ou involução da minha prosa ou pessoa, e eu pulverizei tudo, desbaratei. Se você faz uma coisa completamente diferente, isso certamente é um sinal de que você se esforça; não é sinal de que "melhorou" nem confirmação de que "é bom". É como se eu começasse com placas de trânsito e passasse para sinais de fumaça. Peguei pesado no tom teatral e solene, e as pessoas que "curtiam" o meu "estilo jornalístico" talvez vomitem após algumas páginas. Eu sei de tudo isso, e mesmo tendo pensado em escrever um livro diferente, menos "calça estampada", menos contrário às tendências da moda, escrevi uma coisa que não é inspirada na minha experiência pessoal, não é curtinha, não é fragmentada, não é não-linear, não é despretensiosa, não tem um tom de "planície". É exatamente o anti-exemplo que todos estavam esperando para sapatear em cima. Mas é que nem com assalto: eu sei que tem, mas isso não vai me impedir de andar sozinha e com ipod pra cima e pra baixo.

19.12.05

cicatrizes de guerra

- O que é isso no seu ombro?
- Só um emplastro, está dolorido por causa das facadas.
- Facadas???
- Estiletadas. Aí não posso me apoiar no tronco, a força fica toda no ombro, sabe.
- Nossa, então isso no seu cotovelo foi uma facada?
- Não, isso foi um acidente de bicicleta.

Mas realmente, as três vezes em que me machuquei nessa cidade envolveram machismo e música.
A primeira vez eu tinha saído de uma pesquisa na Biblioteca Nacional e estava ali nas banquinhas de CD do lado de fora. Um gordo sebento com rabo-de-cavalo gritou no meu ouvido, com direito a perdigotos:
- Chuchu!
E continuou andando. Eu continuei vendo o que eu estava vendo, só que deixei a mão esquerda, bem do lado da perna, com o dedo do meio em riste. O cara olhou pra trás (porque quis ver a minha bunda) e viu. Foi-se embora.
Cinco minutos depois, eu estava já na terceira banquinha depois daquela, não é que o cara me volta? Gritando.
- Você não pode mandar qualquer um tomar no cu não! Você sabe com quem você está falando? Você sabe com quem você "pode" estar falando?
etc.
Reagi. A uma besta daquelas eu reagi. Acabou comigo numa delegacia, o rosto todo lanhado porque ele tinha simplesmente esfregado os meus óculos na minha cara. E ainda quebrou o óculos. Não fiquei com a menor cicatriz.

Segunda vez, um ponto de táxi numa rua estreita. Do outro lado, uma fila de carros estacionados irregularmente, me deixando apenas uma pista estreitíssima para passar com minha bicicleta e cheio de carros zangados buzinando atrás. Não podia subir na calçada, a justeza com que os táxis se encaixavam um no outro não deixava.
Como se não bastasse, dois taxistas conversavam com seus colegas dentro dos carros - ou seja, no meio da rua, com as bundas curvadas pra fora como prostitutas. Lembro que estava com o ipod - Bulletproof Cupid, do Placebo - e buzinei uma vez, tlim. O cara ouviu mas nem se dignou a olhar. Buzinei novamente, tlim, o cara ergueu os olhos, que apertou, incrédulo: fez exatamente a cara de quem achou ridículo ser arrancado de seu delicioso bate-papo por uma mocinha petulante de bicicleta que fazia tlim; e abriu os braços fazendo que ia avançar em cima da mocinha, dizendo bahhh como uma múmia de parque de diversões. Consegui milagrosamente desviar do taxista-pedestre (que mesmo babaca, tem a porra da preferência) sem cair, mas não consegui manter o equilíbrio depois do segundo taxista-pedestre, logo à frente. Derrapei no meu braço esquerdo. Hoje tenho uma cicatriz.

A terceira está aí embaixo. Só não contei o que estava ouvindo: Like a rolling stone, versão do Bob Dylan.

16.12.05

enjoy the silence



(O Globo, 12 de dezembro de 2005.)
Ladrões ferem jovem a faca em Botafogo

Simone Silva Campos, de 22 anos, foi esfaqueada ontem à noite durante uma tentativa de assalto em Botafogo. Ela caminhava na Rua Dona Mariana quando foi abordada por dois homens armados de faca e estilete, que queriam levar seu Ipod. Depois de reagir, ela foi golpeada com um estilete na barriga e nas costas. A dupla fugiu sem levar nada e a vítima, que está fora de perigo, foi levada para o Hospital Miguel Couto, na Gávea. O caso foi registrado na 10ª DP (Botafogo).


Eles quiseram me entrevistar, mas eu não deixei. Resolvi dar uma exclusiva para o meu próprio blog.
Eu não reagi coisíssima nenhuma. Se reagi, não foi a um assalto. Eu estava voltando do supermercado com uma Ruffles Churrasco de 200g e um iogurte de morango. Bermuda e camiseta. O ipod no bolso, a carteira no outro, a chave no terceiro. E um guarda-chuva, que chovia. Plena luz do dia, pouco depois das 5 e meia da tarde.
Ando rápido, nenhum pivete consegue me pegar. Então tem dois caras andando na minha frente, uns 30 anos, calça comprida, casacos, sapato social. Quando me aproximo deles, o mais baixinho olha pra trás, acho compreensível - medo de assalto - e cochicha algo com o outro. O baixinho anda até mim, que paro, sem mostrar nenhuma arma, sem dizer nenhuma palavra, e olhando pro meu corpo. Pensei: tarado, e tentei impedir o seu avanço com o guarda-chuva. Ele empurrou o guarda-chuva pro lado e me deu duas estocadas com a faca-olfa que agora eu estava vendo, toda enferrujada e de lâmina completamente pra fora; não sinto nada parecido com dor. Não acredito que acabei de levar duas estocadas. Protejo a barriga com a mão. O homem agora repete dá o aipódi, dá o aipódi que eu estou protegendo com as mãos, junto com a barriga ferida, enquanto grito, tendo entendido agora que é um assalto; ele arranca o fone dos ouvidos enquanto repete mais dá o aipódi. O fone fica metade na mão dele, que corre dos meus gritos junto com o outro. Grito muito mais, conscienciosa, para que corram; e pega ladrão e fui assaltada e tudo isso. Estando eles longe, pisco os dois olhos e decido continuar a andar até em casa; a mão ainda protege o ferimento. Dou um primeiro passo e resolvo levantar a blusa e dar uma olhada. É uma mistura de sangue abundante com água de chuva e uma bola amarela - pus? (O cirurgião me explicou que era gordura. Ganhei uma lipo de brinde.) Suspirando, deito no chão molhado decidindo que é melhor não arriscar um desmaio; chove em mim; grito mais para atrair Curiosos, fui esfaqueada e me assaltaram. Eles vêm. Espero a pergunta (o que aconteceu???) repito que fui assaltada e me esfaquearam; o que os Curiosos repetem entre si como um viveiro de pássaros. Vendo que estão satisfeitos, aproveito para pedir que liguem para a emergência, 190, e que meu nome é tal e o da minha mãe é tal, aliás seria aconselhável também ligar para ela, cujo telefone também era tal, coisa que eles fizeram. Disseram pra pressionar, pressionei; pedi para o senhor fumante fumar um pouco mais para lá, por favor, e tentei alcançar (e me passaram) meu guarda-chuva, ainda aberto no chão, para cobrir a cara, não as feridas. Chegaram os bombeiros e me atenderam; pouco depois chegou a minha mãe. Fui pro Miguel Couto e depois para o Quinta D'Or.

Primeiro dia, CTI. Dormi 3 horas, tinham me posto na frente de uma senhora que exigiu seus analgésicos a madrugada inteira, batendo com o troço plástico que fica preso no dedo na beira da cama (ainda não está na hora, dona Isabel...). As outras horas passei sacaneando a linha branca do eletrocardiograma, que descobri que era a respiração. Consegui controlar as batidas do coração também (Scanners), mas achei melhor não bulir muito com isso.
Depois fiquei num quarto lendo Morvern Callar (moça cujo nome significa a mudez mais quieta) cheia de visitas em volta. As visitas se dividiam em desejáveis e indesejáveis. E o pior é que não dava pra fugir.
TV aberta e ninguém achava meus outros livros pra me dar. Vi A Identidade Bourne, Billy Elliot que me fez dançar escondida no banheiro com o ipod, até por causa do cenário raver de Morvern, um filme de Kung Fu com bastante porrada. Cancelaram o Chaves, agora tem Family Feud. Adivinhei algumas coisas.
Vi outras coisas bizarras, como uma espécie de Rei Leão live-action que passou na Sessão da Tarde e o Cristóvam Buarque dando entrevista no Ratinho.
Fiquei com soro três dias e quando foram tirar, desmaiei. Por causa disso fiquei mais um dia (com a condição de que não encostassem em mim mais nenhuma agulha).
Então agora estou ótima, não foi atingido nenhum órgão interno e não estou com medo de andar na rua.
O problema é que vão continuar estimulando loucamente o consumo e falando de décimos-terceiros e enchendo a cabeça das pessoas de fantasias de fartura natalina e tanto dinheiro correndo por aí, basta pegar. As enfermeiras do Quinta vieram compartilhar suas histórias de assalto comigo; é o Natal, é o Natal.

10.12.05

ayanamireificação
(hai sensei)


às vezes sou fria, mas depois vocês vão me agradecer
Eu quero gostar dos livros dos autores brasileiros, mas eles não colaboram... às vezes gente legal, amiga, eu quero gostar dos livros de vocês. Mas fazem a mesma coisa que outros fizeram - e aqui entraria o grande parêntesis para dizer que tudo já foi feito e só resta copiar, e eu sei, mas estou falando de transfigurar tipo o J.T.Leroy consegue, tem Salinger ali all over como numa cena de crime mas não é Salinger, é Leroy! Fantástico, não?
Escolham pelo menos fontes mais criativas pra copiar. Senão, além de tudo, seus livros vão se parecer muito entre si. Vão beber da poesia, da arte, do videoclipe, do videogame. Parem de imitar a Clarice Lispector ou o Rubem Fonseca ou o Nick Hornby ou quem quer que seja. É mil vezes melhor ser você mesmo que uma cópia perfeita de outra pessoa. Auto-ajuda, eu sei. Blé.

1.12.05

como escrever

Nível Um

Você está andando na rua e sente que algo de maravilhoso e terrível está por acontecer, e seu personagem andará na rua pensando que algo de maravilhoso e terrível está por acontecer.

Nível Dois

Você está andando na rua e sente que algo de maravilhoso e terrível está por acontecer, e seu personagem pensará como odeia pessoas que sentem que algo de maravilhoso e terrível está por acontecer.

Nível Três

Você está andando na rua e sente que algo de maravilhoso e terrível está por acontecer, e seu personagem demonstrará como odeia pessoas que acreditam em milagres.

Nível Quatro

Você está andando na rua e sente que algo de maravilhoso e terrível está por acontecer, vai ao supermercado, tira uma xerox, tem um dia incrivelmente ruim ou surreal, senta-se num banco de praça, e seu personagem não se adaptará às circunstâncias.

Acredito em distâncias.

30.11.05

down

Deprimente é cortar o cabelo como o da Amelie Poulain e perceber que ficou mais pra Rei Ayanami: pontas pra baixo.

27.11.05

As pessoas não deviam se juntar com gente igual a elas. Deviam se juntar com pessoas complementares. Senão você vai se amar no outro, não amar o outro. Toda diferença vai irritar, e você procurará fazê-lo mais próximo do que você é. Duas pessoas iguais juntas vira par de jarros, irrita quem está em volta, potencializa os defeitos do ser único que se tornaram. Duas pessoas complementares é uma simbiose, mesmo quando separadas. Quase uma telepatia.
Não adianta dois salva-vidas com o mesmo turno. Você precisa de quem esteja vivo para te reanimar, não de quem morra junto. Cada um, resgatado e salvador.

26.11.05

Quando ficamos no Rio por muito tempo, começamos a acreditar que o frio é um mito criado na Europa para vender casacos.
Até 15 graus não considero frio. Quando chove fica mais quente do que quando está sol - você vê mocinhas tiritando de frio imaginário no casaco da moda, couro, vinil, tricô, o que for. Coleção de inverno, aqui, é uma piada.

23.11.05

Sabe o que é? É que me mandaram ler esse livro esquerdista pra faculdade e, embora ele esteja todo marcado de boo!s, e daí? e até parece... eu resolvi prorromper em invectivas contra as aleivosias neoliberais, enquanto tomo um uísque com coca-cola. Se alguém está preocupado, reafirmo que sou de centro e abstêmia, mas sou eclética.
rebimboca da parafuseta

Então chegou uma vaga perfeita, na editora que eu queria e da qual estava lendo um livro (e pensando em mandar o meu pra ser publicado), com um salário horrível e uma vaga nem tanto. Para alunos de Produção Editorial, frisava.
Lá embaixo: do sexo masculino.
Não vou nem entrar no mérito de "já estarmos em 2005", primeiro porque muito desconfio da idéia de progresso, segundo que o fato do tempo passar não é mérito nenhum, ele simplesmente passa, e isso não tem qualquer correlação com a evolução ou involução do que quer que seja.
Mas eu queria sinceramente saber no que o fato do indivíduo ter um pau vai ajudá-lo a ser um melhor designer gráfico.
Da mesma forma, não me candidataria a uma vaga somente para mulheres. Aí a pulga atrás da orelha seria: no quê o fato de eu não ter um pau (e um par de peitos AA, quase não conta) vai ajudar na incumbência, seja ela qual for?
Agora me pergunta se ainda tenho vontade de mandar meu livro para esta editora de mente tão aberta. Não seria desperdício de tempo, banda e papel? Eu acho.

(Talvez tenha a ver com o motivo pelo qual eu meto medo nos caras de quiosques de informática quando entramos nas discussões sobre preços de componentes, teorias sobre o equilíbrio preço/qualidade, refrigeração, reconhecimento de drives em placas antigas, nostalgias pré-Pentium, e eu tô lá pau a pau - no pun intended.)

22.11.05

Produtividade

É o capitalismo. Depois que descobriram que somos "recursos", não pararam mais de querer nos usar. E de nos fazer querermos nos usar. Mulheres. Mão-de-obra. Há uma insistência para que você, dono de tantos "recursos" (tempo, corpo, buracos, sangue, nervos) use-os ao máximo. Extrapole-os se possível. Quer dizer: muitos amores, muito trabalho, muita hora-marcada, tudo ao mesmo tempo. Minha agenda está cheia, volte no próximo sábado.
Se você não faz isso... é um pária. Está fadado a ser chamado de vagabundo (no trabalho) ou de amélia (mulher). Você não está trabalhando/transando tanto quanto poderia, sabe?
E daí?
Quantidade não é qualidade. Muitas vezes, é o oposto, até. Porque eu posso não significa que eu deva. Não é um state-of-mind muito capitalista. Também não se orgulha de si mesmo, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal...
A produtividade atravanca o amor. O amor atravanca a produtividade.

21.11.05

É impressionante como quando estou andando no Centro com meu ipod, os manic-street-preachers das financeiras (que para piorar só vestem cores cítricas da Pantone, valha-me Deus, pelo menos os preachers de verdade vestem preto; mas cítricas são as cores do time, quer dizer, da empresa) não chegam nem perto. Agora, quando estou sem os fonezinhos brancos, eles só faltam me segurar pelo pulso como as ciganas. Vê, para os preachers eu digo não, obrigada; para os chatos cítricos eu sequer me digno a olhar. Dou-lhes a volta como o Peter em Office Space.
As financeiras só selecionam gente pobre com vontade de vencer. Todos eles têm um brilho nos olhos; é como se estivessem em Malhação ou Barrados no Baile. Andam em bandos, às vezes, os dois caras do grupo fazendo gracinhas para as meninas, que riem ou tentam responder à altura. Daí um deles se destaca inesperadamente, aproveitando os dentes já de fora, para abordar a primeira aposentada incauta. É assustador.
Devo estar mudando, pois antigamente faria planos de parar e ouvir a ladainha deles uma vez só por curiosidade e, com grandes olhos inocentes, deixaria abundantemente claro que minha vida está completa e que todos os meus sonhos caros estão por ora realizados. Mas não.

18.11.05

nothing personal, but everytime i look at you i remember world's going to hell

- Essa novela nova tem o núcleo pobre em Vila Isabel. Eu moro em Vila Isabel e não é nada daquilo? Ninguém se conhece nem se fala daquele jeito. Nem cumprimenta no elevador.
- É que você não está familiarizada com o sistema de escolha de nomes da Globo. Eles têm uma caixa de sapatos com um furo na tampa e, dentro, papéis com nomes de bairros da Zona Norte, e quando vão fazer uma novela nova metem a mão lá dentro, "e o nosso núcleo pobre vai ser eeeem... VILA ISABEL!".

16.11.05

Lição

Filhinhos, nunca peçam prorrogação de um prazo de entrega a um professor de retórica.
Parece óbvio, mas tem gente que não sabe. Então explico. Ele não vai dizer que sim, nem que não: vai discursar carochinhas pungentes e ameaçadoras que fazem aparentar que a escolha é toda sua enquanto dedilham a neurose patriçola por notas-altas, e isso fará com que a aula se estenda bem mais do que o previsto.
Repito, parece gritantemente óbvio mas tem gente que não sabe. Quando a menina começou a balbuciar molengamente que "aah, mas tem que ser no dia tal..." eu já comecei mentalmente o mantra do oh shit oh shit. Imagine, tentar enrolar um professor de retórica! Devia ser reprovada só por exibir que não aprendeu coisa nenhuma.

15.11.05

nota

Ir numa boate para prestar atenção e se concentrar. A observação é mero efeito colateral. Verbo fitar.

12.11.05

O pé do livro

Está num pé de banho-maria. Espero algum editor ter condições econômicas e vontade política de publicar sem que eu tenha que pagar por isso. Estou em três ou quatro, duas já deram resposta positiva e as outras nem sim nem não. Das que deram resposta positiva, uma é grande e outra pequena; vou com a que for primeiro/melhor. Não ligo para a distribuição (a suposta grande vantagem da grande), com o No Shopping a distribuição consignada correu bem. Acho que ele não precisa de profecia auto-realizável, do tipo colocar o livro na estante dos mais vendidos e ele se tornar mais vendido (quanto se aprende em Produção Editorial!).
Quero, também, os direitos de filmagem e controle sobre a fonte (Baskerville, a geometricamente correta), a diagramação, a capa. Controle, não, eu quero é fazer. Eu vou fazer. O projeto gráfico da pequena é perfeito porque não exige (nem permite) uma foto. Não quero mostrar a cara. Mas eu queria umas bossas tipo verniz na capa e este não permite.
Quero que esse livro saia logo, de preferência em janeiro - ele se passa todo num janeiro. Me disseram no mínimo março. Agora a CPI vai até abril, e isso vem ao caso, de certa forma, assim como o fato de ser 2006 - o livro se passa em 2002, get it?

Como tenho tempo, estou revisando à moda obsessiva. Imprimo, leio tudo, uso uma caneta que veio numa revista Coquetel, copio tudo pro computador com as marcas de revisão acesas, imprimo de novo, agora uso um pilot roxo que tem uma etiqueta minúscula "Simone - T.71". De vez em quando perco esse pilot e uso a lapiseira 0.5.
Agora fiz uma maldade muito grande. Algo que sei que muito escritor não tem peito pra fazer. Eu li o meu livro todo e selecionei as partes mais ruins ou que destoavam do resto. Aí vou fazer outra coisa - essa, que muitos críticos não têm peito pra fazer: sugerir algo melhor ou dizer, é, vai ter que ficar ruim porque não consigo pensar em nada melhor.

- tirar o x da primeira noite (caso do caminhão)
- a 3a noite está muito "realismo mágico"

- encontro com os gêmeos (12a noite)
- 8a noite -> enfermeira (huh?)


So's... tá indo.

9.11.05

unnecessary roughness

Tinha uma certa professora de sexta série, ok, que não gostava de um certo aluno. Ela contou certa anedota sem graça (como são 90% das anedotas de professores, pelo menos os de primeiro grau). Sei que o comentário do garoto que ela não gostava, num tom animado, foi:
- Que coisa mais... irreverente.
(oh, shit.)
A professora fez uma cara sádica e pediu:
- Mais o quê?
(shit.)
- Isso, foi super irreverente.
Pausa sádica dois.
- Irreverente? Como assim? Irreverente não se usa neste sentido, não, L.C. (shit!) Acho que você quis dizer outra coisa, "bizarro" ou "incomum", por exemplo. Acho que você não sabe o que quer dizer irreverente.
- Obrigado, professora. Só me permita fazer uma observação. A senhora podia ter dito isso sem humilhar um aluno só porque sabe mais que eles. (holy shit.) A senhora é uma educadora.

Eu pensava uma série de palavrões de constrangimento por eles, enredados em whatsomething.

8.11.05

A delatora

Eu vivo olhando para a tv com uma sobrancelha levantada, pensando isso não me é estranho. Memória musical. Baixem as seguintes músicas (links pro Emule) e reconheçam onde as trilhas publicitárias andaram "se inspirando":

O novo anúncio da Knorr termina com uma imitação de uma parte de uma das músicas do novo CD do U.N.K.L.E., Never Neverland. Ela se chama In a state.

Um shampoo que anuncia no SBT vampirizou o estilo do Moby (principalmente o de Hymn).

A trilha do comercial da Petrobras que passava depois da Fórmula 1 era uma corruptela da Hotride, do novo CD do Prodigy.

Um comercial de carro meio antigo usava o mesmo tema de The river, do Enrapture.
Informação inútil do dia

Depeche mode: dépêche, substantivo do verbo francês dépêcher ("se apressar") destituído dos acentos como se usa no inglês. Modo turbo, dir-se-ia.

"Things get damaged
Things get broken
I thought we'd manage
But words left unspoken
Left us so brittle
There was so little left to give"

7.11.05

moody's

Ah, agora sim, essa é a rádio perfeita. Você fica mimado com um bicho de 20 gigas só com as músicas fodas dentro, aquelas que você recolheu pacientemente por toda a sua vida, aquelas que você vibra quando toca na festa (em especial se a festa está meio chata).
Então porque a gente passa a música, meu Deus? Se foi você que escolheu a dedo, você mesmo, não tinha como errar, né? Se você é o programador da rádio... como é que não consegue acertar?
O iTunes (o programa que vem junto com o iPod e é uma porcaria) tem uma nova versão que inclui gerenciamento de moods. Você associa certas músicas (ou listas delas) a determinados "humores", e assim você poderia escolher entre
- "Kawaii": Zero 7, Goldfrapp, trilhas de anime shojo.
- "Misty": Boards of Canada, Four Tet, Bardo Pond.
- "Squeaky Yoko": Bjork, Kate Bush, Tetê Espíndola.
- "Fodam-se os meus tímpanos": QOTSA, Ramones, eletro etc. (Na verdade o espírito dessa não seria muito diferente da Squeaky.)
Não vou nem tentar. Sei que será mais tempo perdido e mais decepção. Estou usando o plugin do Winamp, melhor. E deixa fazer umas barbeiragens que o outro programa não deixa, como chupar a música do iPod pro HD.
Por enquanto, conhece-te a ti mesmo. Serve pra montar a lista do iPod.

3.11.05

Como eu suspeitava. Depois de atravessar duas ou três páginas de guia quatro rodas sobre a bicicleta, fui dar no aeroporto. Sabem o que isso significa? Que dá para ir de bicicleta ao aeroporto. Sei, parece óbvio, mas para mim é coisa grande. No cabs for me, thanx. Mas o melhor não é isso. É que usar a ciclovia para chegar ao aeroporto, em caso de Força Maior (comoções civis, guerras, maremotos causados por geleiras derretidas, golpes de estado algo repentinos que persigam cabeças pensantes e as mandem ser reeducadas no campo, nada contra um bucolismo ocasional, gosto das vaquinhas e converso com as plantas, mas definharia sem um computador), é uma boa rota de escape. Se os carros não tiverem essa idéia antes e invadirem. E se a aeronáutica não estiver distraída, destruída, envolvida. Também tenho economias em estoque. Acho que estou paranóica.

31.10.05

Muerto: verão do norte do México.
Mortal: gíria escocesa para "bêbado".
Palavras que me assustam

Limbo
Vudu
Cilindro
Losango

Palavras que eu gosto

Menu
Sideral
Shampoo
Ampulheta

Eu penso muito nas palavras, desde que eu era pequena. E esta é uma pequena amostra das primeiras que notei que me metiam medo ou sorrisos.

25.10.05

wacked out cult joiner

Eu gosto muito do Boards of Canada mas não sabia de nada disso.
Essas crianças prodígio são todas demoníacas, bebês de rosamaria. Geralmente são irritantes, especialmente o garoto que fez A.I.. Mas da Dakota Fanning eu gosto.
A menina é simplesmente muito expressiva e ótima atriz. Tão pequena, já carregou filmes inteiros nas costas, como o que fez com a Brittany Murphy e outro com o Denzel Washington (na verdade, uma tentativa de assovio-de-cachorro unificado para o público feminino-fofolete e os machos fãs de ação).
Pois bem, a srta. Fanning será a Coraline criada pçor Neil Gaiman. Mal posso esperar.
Descobri o segredo para se divertir em boate. Vá tidy (limpo e correto) e só. Prove o ambiente, passeie pelos cômodos, lave as mãos no banheiro, dance com a parede, coce a ponta do nariz, estale as juntas. Só você vai entender a piada. (Das músicas boas, das músicas ruins, da gente milimetricamente estudada que não pode relaxar, de motivos para se sair.)
Porque antes disso descobri que não levo jeito pra ser cool. Sou outra coisa que não cool. Inocente ou sem noção, isso me ajuda.

24.10.05

Livros escoceses. Livros escoceses. Livros escoceses.

Morvern Callar, Alan Warner
Trainspotting, Irvine Welsh
The trick is to keep breathing, Janice Galloway

Quando esbarro lendo em alguém no metrô digo Sor-perdão ou Ch-desculpa.
Resolvi traduzir um pedaço do Morvern Callar porque está bom demais. É solitário ler uma coisa tão boa e não saber que mais gente que poderia gostar não está lendo por causa da barreira da língua ou porque nunca ouviu falar. Me ofereço (imolação) para traduzir isso nem que me paguem uma miséria. Divirtam-se.


Ele tinha cortado a garganta com a faca. Tinha a mão quase decepada pelo cutelo. Como ele não podia se opor acendi um Silk Cut. Uma espécie de onda de alguma coisa me atravessava. Havia susto mas eu já tinha imaginado como eu ia ficar.

Ele estava nu, morto e de cara pro piso da área de serviço sobre uma poça de sangue. As luzes da árvore de Natal acendiam e apagavam. Dessas dava para mudar a velocidade. A cada vez dava pra vê-lO espichado e aí o pretume com a tela do computador dEle ainda ligada.

Comecei o choro por causa de todos os presentes na nossa árvore e dEle morto. Lembrancinhas inúteis sempre me deixaram triste. Quando choro pelo que é triste eu começo comigo e depois passo para os outros. Aquela da Corran Road com todos os filhos afogados de barco. Ela chorou até perder um olho. Eu chorei de soluçar e meu nariz escorria.

Soltei o Silk Cut que queimou até o filtro no sinteco. Parei de chorar porque não conseguia respirar e estava morta de frio. Diminuí a velocidade do pisca-pisca da árvore de Natal. Liguei a luz da área e o aquecedor de imersão e o fogo mas não pus nenhuma música.

Pensei em me preocupar em ir até a cabine perto da garagem para telefonar para a polícia, ambulância, ou quem quer que fosse levar as coisas adiante. O porto todo ia saber. Ia ter foto impressa no jornal. Teriam que contar ao pai velho dele que morava em outro país. Meu padrasto, o pessoal da estação de trem e todo mundo do supermercado ia ficar sabendo.

Levou meia hora o aquecedor e o vídeo marcava umas oito. Precisei ferver a chaleira para limpar aquela choradeira toda da cara.

Não dava pra passar por Ele sem pisar no sangue dEle e eu estava com medo de chegar perto, então fui buscar minhas coisas no quarto. Tomei a última pílula daquele ciclo.

Voltei para a área e corri para saltar sobre o corpo. A pia estava cheia de pratos então dei uma boa lavada neles. A cabeça estava aos meus pés - descalços. Pus o bico da chaleira embaixo da torneira. Então pus minha calcinha em volta do buraco e prendi dos lados com o elástico. Quando a chaleira ferveu coloquei de volta a calcinha quentinha. Pulei sobre Ele de volta pronta para jogar a chaleira longe, que ninguém queria escaldar as pernas. Meu pé pousou em sangue. Dei mais um passo adiante e soltei um palavrão. Limpei o pé no tapete.

Lavei o rosto naquela água de chaleira com cheiro de queimado e depois precisei ir ao banheiro.

Sentada lá percebi que tinha trancado a porta mesmo Ele estando morto. Fiz número um e número dois lembrando de sempre limpar de frente pra trás. Mesmo com Ele morto usei o spray desodorizador.

Por falta do que fazer separei todos os presentes para Ele, Red Hanna, Vanessa a Depressora e Lanna no armário do boiler. Acendi um Silk Cut. Perfilei os presentes dEle para mim e aí rasguei todos os papéis de uma vez feito os engradados de maçã no trabalho: uma jaqueta de couro polido, um pacote de meias-calças amareladas segunda-pele, um isqueiro meio dourado, um troço sedoso tipo espartilho e um Walkman com pilhas que parecia caro. Comecei a chorar de novo quando pisei no sangue e me ajoelhei. Acabei tocando o cabelo dEle porque o resto estava gelado. Todo o sangue do chão estava com uma espécie de casca. Quando vi aquilo queimado enfiei a guimba do Silk Cut no sangue e ela assobiou enquanto era expulsa.

Fiquei chorando tanto tempo que a água já devia estar quente. Pedaços da casca de sangue se desprendiam das minhas pernas quando levantei e caíram gotas frescas. Meus pés descalços deixaram pegadas pretas pelos tacos. Fiz as pegadas virarem borrões com o papel natalino brilhoso.

Ajoelhei no banho. Lavei meus joelhos e pernas e dentro de mim. Esquentei as pernas para acabar com os pontinhos de arrepio e raspei aqui e acolá. Fiz um cortezinho na canela com a gilete e subiu sangue numa bolha, mas sumiu rápido. Joguei um fio de espuma de banho e enchi a banheira. A água estava pelando então liguei a fria.
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He'd cut His throat with the knife. He'd near chopped off His hand with the meat cleaver. He couldnt object so I lit a Silk Cut. A sort of wave of something was going across me. There was fright but I'd daydreamed how I'd be.

He was bare and dead face-down on the scullery lino with blood round. The Christmas tree lights were on then off. You could change the speed those ones flashed at. Over and over you saw Him stretched out then the pitch dark with His computer screen still on.

I started the greeting on account of all the presents under our tree and Him dead. Useless little presents always made me sad. I start for me then move on to everybody when I greet about the sad things. Her from Corran Road with all sons drowned off the boats. She bubbled till she lost an eye. I greeted in heaves and my nose was running.

I dropped the Silk Cut and it burned to the filter on a varnished floorboard. I stopped the greeting cause I couldnt breathe and was perished cold. I slowed down the speed of the flashing Christmas tree lights. I put on the scullery light then the immersion heater then the bar fire but I didnt put a record on.

I supposed I was stewing over going out to the box by the garage to phone police or ambulance or whoever took things to the next stage. Then all in the port would know. They'd print a photo in the paper. His old dad who lived away in a country would have to be told. My fosterdad and the railway and all in the superstore would know.

That immersion heater took a half hour and it. was eightish on the video. I needed to boil the kettle to get the mess offof my face, what with the greeting and that.

I couldnt get past Him without stepping in His blood and I was scared to go too nearish so's I got my things in the bedroom. I took the last pill in that cycle.

I came back towards the scullery then took a running jump over the dead body. The sink was full of dishes so I had to give them all a good rinse. The face was by my bare foot. I fitted the kettle spout under the tap. Then I put my underwear over the spout and tugged the elastic round the sides. When the kettle boiled I put the warm knickies on. I jumped back over Him ready to throw the kettle away, after all you don't want to scald your legs. My foot came down in blood. I stepped forward and swore out loud. I wiped my foot on the rug.

I washed my face in the sort of burnt-smell kettle water then I needed toilet.

Sitting there I saw I'd locked the door even though He was dead. I did a number-one then a number-two remembering always to wipe backwards. Though He was dead I used the air freshener spray.

For sake of something to do I tidied away all the presents for Him, Red Hanna, Vanessa the Depresser and Lanna into the boiler cupboard. I lit a Silk Cut. I lined up the presents from Him to me then just tore them all open one after another like apple boxes at the work: a polished steerhide jacket, a packet of yellowish low denier stockings, a lighter that looked goldish, a basque thing all silky and a dear- looking Walkman with batteries in. I started to greet again as I stepped in the blood and knelt. I ended up touching His hair cause the rest was cold. All floor-blood had a sort of skin on. When I saw it burnt down I pushed the Silk Cut butt in the blood and it hissed snubbing out.

I'd been greeting so long the water would be hot. Bits of the blood-skin hung from my legs when I stood up and fresh drops came off. My bare feet left blackish foot-prints across the floorboards. I wiped the footprints into smears with the shiny Christmas wrapping paper.

I kneeled in the bath. I washed my knees and legs and in me. I got my legs warm so there were no goosebumps then shaved them and that. I gave my shin a wee nick with the razor and blood lifted in a bubble then trickled quick. I put in a splash of the bubblebath and filled the tub. The water was too burny so I put in cold.
First-person shooter

Eu sempre quis morar em casa, dessas antigas, com tacos e janelas de madeira e dois andares. Dessas que às vezes têm uma gêmea siamesa. Dessas que viram clínicas e lojas de roupa esnobes.
Estavam falando de casas e confessei meu desejo. Disseram que era perigoso. Baixei a cabeça um momento antes de lembrar que o não ganhou. Então eu compro uma carabina e bááá, dê o fora da minha propriedade, ninguém mexe com Simone Calamidade.

22.10.05

oldboy

- Lookie. Um velho de chapéu. Adoro velhos de chapéu. Que ainda usem chapéu.
Entramos no ônibus. O velho sentou na poltrona do outro lado. Entabulamos aquela animada conversa de bullshit intercalada com reclamações da idiotice humana.
O velho dava umas olhadinhas pra gente. Quando encarado, desviava o olhar.
Dormi 20 minutos e estávamos na serra.
- Oi.
- Oi.
- Não consegue dormir?
- Não. Acho que esse velho é o Carlos Heitor Cony. Vê.
Olho.
- Não sei a cara dele.
- É a cara desse velho.
- Acho que deve ser, sim. Li alguma coisa que ele morava em Petrópolis.
Olho de novo.
- Que merda. O Cony, e ficamos chamando ele de velho. Será que ele ficou ofendido? Ah, foda-se. Vou continuar chamando de velho. Ó, não pára de olhar pra cá. Por que que ele fica olhando pra cá?
(...)
- Eros e Psiquê, Perséfone e Hades, Afrodite e...?
- Não sei.
- Afrodite com quem? Não consigo lembrar.
- Pergunta pro Cony. Cutuca ele. Ele deve saber.
Na fila do McDonald's francês:
- Como será que se chama o Quarterão com Queijo na França?
(pausa. percebimento.)
- Não, não estou fazendo nenhuma referência estúpida. Preciso saber por motivos práticos.

A verdade é que... não tem Quarterão na França. O jeito é pedir dois cheeseburguers (deux tchisburguéurr). E lá o McDonald's tem apelido: McDo (mecdô). Eles tentam se camuflar na paisagem para não serem apedrejados pelo Bové e não usam aquelas cores horrivelmente chamativas. O vermelho do logotipo vira um maroon bem discreto. O uniforme também é afrancesado.
Espiral

Se você gosta de sentir medo com a Samara/Sadako e sabe inglês:

Uzumaki - Volume 01 [MangaReactor].rar
Uzumaki - Volume 02 [MangaReactor].rar
Uzumaki.-.Volume.03.[MangaReactor].rar

(links do Emule. Se não sabe o que é Emule, descubra aqui)

Na Inglaterra isto estava vendendo por 15 libras a edição, se não me engano. Uma cidadezinha é contaminada por espirais. O crematório começa a soltar fumaça em espiral, pessoas começam a extirpar partes do corpo com espiral (olhe bem pro seu dedão), outros viram caramujos.
Quando li, tive dificuldades pra dormir no meu quarto com o conjunto kitsch cama/penteadeira/espelho pavão (i.e. decorados com espirais) e o edredom de arabescos. Dormi num cantinho do colchão.

17.10.05

A Noiva Cadáver

Corpse Bride e Vestido de Noiva no mesmo festival, repararam?

15.10.05

Iluminação

Bater os olhos e saber se é bom pelos parágrafos, local das vírgulas, travessões, tamanhos de blocos de texto, parêntesis. O jeito como se fala ser muito mais importante que o conteúdo: melodia, interesse, instigação. A angulação da roupa muito mais pertinente que tendências, a comida ao clima, a criação à cria.
Slide

12.10.05

Ando achando todas as pessoas do mundo chatas, inclusive eu. É uma evolução. Quando eu era adolescente eu achava todos ridículos, menos eu.
Fico pensando em como sair dessa. Não consigo conviver com chatice, sabe? Penso em sair de casa, mas aí teria que lidar com um número maior de chatos na rua. E ficaria morrendo de vontade de voltar para casa, onde só tem uma chata.
Dentro das minhas classificações de chatice, existem categorias que aprecio e outras de chatos deploráveis. Gosto de chatices raras; gente que é estritamente ética, por exemplo, e fala mal de tudo com cara feia. Quanto aos exemplos de chatice detestada, nem vou me estender porque me dão náuseas. Digo só que o tipo de chato mais detestável é aquele cuja chatice ele mesmo julga incomum e exclusiva, mas é completamente ordinária - existem milhares de chatos iguais pensando a mesma coisa.
E este post saiu chato, mas como sou chata, posto mesmo assim.

9.10.05

Uma coisa é certa: tenho feito muitas meninas saírem correndo e chorando. Muitas vezes sem querer.
As Frenéticas

Eu andei pesquisando umas coisas bizarras por motivos bizarros, e por isso acabei caindo, evidentemente, nas Frenéticas. Ouvindo o som que estas magníficas senhoras produziram e deixando minha mente revoar até uma certa festa recente e ainda queimada na retina, cheguei a uma relevantíssima conclusão:
as amigas da minha mãe se parecem com as Frenéticas.
De vez em quando elas voltam, reaparecem no Faustão com meias arrastão, não é? (As Frenéticas, não as amigas da minha mãe) E então você pensa, minha nossa, de onde foram desencavar estas criaturas esquecidas por Deus? E por quê???
É a mesma sensação com as amigas da minha mãe. É impressionante. As poucas que se salvavam já se salvaram, óbvio: não vejo minha mãe andar mais com elas. Sobraram rigorosamente as piores dentre as piores!
E na tal festa eu pude me deprimir bastante. Por mais que eu tentasse me isolar, aconteceram as seguintes cenas:

Eu me enterrei no quarto com um livro gostoso de ler que graças a Deus eu tinha trazido.
Então chegam algumas mulheres pra deixar as bolsas no cabide (que desafortunadamente ficava no meu quarto). Elas entram, me vêem, e começam a fazer perguntas. Dou respostas polidas. Não satisfeitas, duas delas permanecem no quarto. Tagarelando. Apreciando o ambiente exclusivo. Eu continuo a ler e uma delas repara e troa:
- Ihh, a gente veio acabar com o sossego da Simone!
Então ela bateu palminhas e cantarolou "a-ca-bou sos-se-go" ou algo assim umas duas vezes. Eu fiz tal cara de cu que as duas deixaram o quarto imediatamente.
(Não achei a menor graça na hora. Uma sombra de sorriso normalmente passaria pela minha mente num momento desses, mas estou começando a perder o humor para certas coisas. Não dá pra ser pós-moderna com tudo.)


Mais tarde, minha mãe, numa tentativa de me fazer participar da festa, me fez entrar na cozinha (onde notei que as empregadas - sim, plural, DUAS - estavam usando inéditos uniformes e touca) e confeitar o bolo de chocolate com um maço de mini-confettis. Enquanto eu tentava entender como se abria aquilo, surgiu uma criatura de rosa, acho que pra pegar mais vinho.
- Zzabe com quem vozzê parezze? - engrolou a coisa.
Como não ouviu resposta, ela repetiu, dessa vez encostando-se (melhor seria dizer escorando-se) no meu ombro.
- Zzabe com quem vozzê parezze?
Nada.
- Vozzê parezze com... aquela menina... que lanzzou um cedê agora... a Maria Rita!
(Eu consegui abrir as confettis.)
- Não zzabe? A Maria Rita... aquela cantora... filha da Elis... vozzê não zzabe quem é?
- Sei. (eu espalhava a confetti no bolo como orégano sobre pizza)
- O que foi? Vozzê não gosta dela?
Nada.
- Vozzê acha ela... o quê?
- Você está de rosa. - finalmente o pensamento que ocupava minha mente escapulia pela boca.
- Quêê?
- Você está de rosa - repeti, continuando a confeitar.
- Mas... como azzim, de rozza? Eu tô de rozza...
- Você está toda de rosa.
Demorou, mas uma luz se acendeu naquele pequeno cérebro empoeirado.
- Aah. Minha filha também fica falando, ah mãe, vai zzair toda de rozza. É, as pezzoas da zua idade...
O bolo estava pronto e saí. A mulher se apoiava na bancada da cozinha, e aparentemente falou sozinha on and on.


Não estou brincando, infelizmente. Isso praticamente me incapacitou por uma semana. Fiquei deprimida e apática de verdade, igual aos sintomas (até então) hipotéticos que descrevo no meu livro, e não é nada divertido. Espero que meus personagens saibam me perdoar.

3.10.05

Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?

é mais um filme japonês pós-apocalíptico. Fico abismada como conseguem fazer tantos filmes japoneses pós-apocalípticos sem que um repita o outro.
Seguinte: o mundo está sendo assolado pela chamada "Síndrome de Lemming", um vírus que causa compulsão de suicídio. Nesse contexto, um grupo eletrônico experimental ao extremo, o Stepin Fetchit, isola-se no hostel sem hóspedes da mãe de um deles, no meio do nada, coletando sons pós-apocalípticos para suas composições. Chega um velho trazendo uma mocinha amarrada e dizendo que a música do Stepin Fetchit pode aliviar os sintomas da síndrome na mocinha que é a neta dele.
Este aqui só podia assistir quem gostasse de música eletrônica. Os velhos sofreram. (E aqui entraria o grande detour politicamente correto para fazer notar que provavelmente nem todos os velhos odeiam música eletrônica, ou que algum velho deve gostar um pouco, mas não estou com vontade.) Eles sofreram mesmo. Calvário. Teve uma cena de, sei lá, quase cinco minutos mostrando uma determinada experimentação do Stepin Fetchit que incluía um arco de violino, um cabo metálico grosso bem esticado e pedais - três pedais - distorcendo cada vez mais o som. Prova de fogo. Só essa cena eliminou umas duas velhas da audiência.
O Stepin Fetchit também desmontou um ventilador, retirando as pás e amarrando mangueiras zunidoras no lugar; prendeu conchas num varal com correntes e pregadores e gravou o som da pira funerária de um de seus componentes.
O Stepin Fetchit não existe na vida real, e nem encontrei a trilha do filme. Mas caso queira ter uma idéia, baixe alguma coisa do Bardo Pond. Eu adoro Bardo Pond.
Algumas músicas "Stepin Fetchit" do Bardo Pond:

Chomp
Vent
Lull
FUFO (cara, eu adoro FUFO. FUFO quer dizer FUll Fuzing Options - "opções de detonação completa" para uma bomba nuclear, por exemplo. Bem pós-apocalíptico.)

O Bardo Pond tem outras músicas mais melosas - mais agradáveis. Mas aí não atende ao objetivo de emular o Stepin Fetchit. Sinta-se uma velha!

1.10.05

Encontrei um quarto escuro, peguei um travesseiro e me enrolei no edredom. Mas não dormi. A festa estava num estágio de embriaguez eufórica (logo antes de bater a depressão) em que o barulho era tonitruante. O problema não era o volume; era a untuosidade dos causos selecionados para mostrar que Eu Sou Foda, um tentando se sobrepor ao outro.

Eu estava ouvindo a Fran Drescher conversar com o Capitão Gancho com ocasionais apartes de uma débil mental.
Considerei circular com a câmera, adicionar um jazz e montar o mais novo filme de Walter Hugo Khouri, mas nessa hora o edredom já estava quentinho e preferi continuar onde estava.
Corpse Bride

Resume-se em: vejam.
Um pouco mais? "Animação em stop-motion do Tim Burton com dublagem de Johnny Depp, Helena Bonham-Carter e Emily Watson, e inspirado numa lenda russa do século XIX."
É fofo e mórbido, como seria de se esperar. Estranhei as pessoas não rirem tanto. Eu ri o tempo todo como uma criança.
se uma árvore cai no meio da floresta

Eu tenho o dom de conseguir ser odiada e (1) nem perceber a princípio (2) quando perceber, séculos após o evento original, não saber porquê. Finalmente, eu descubro toda uma história enterrada a dois palmos da superfície, que era sobre mim e comigo, porém sem minha participação. É mais ou menos como se eu fosse convidada especial do delírio paranóico do próximo.

Quando eu escrevia para o jornal baiano, fiz uma coluna contando que tinha sido convidada para escrever contos para um site administrado por indies. Os contos eram representações alegóricas de álbuns musicais. Escrevi (e era verdade) que eu estava feliz por poder pegar todos os álbuns eletrônicos, já que a preferência dos demais escritores eram álbuns alternativos e independentes de que eu sequer havia ouvido falar. Portanto, indies.
Uns 15 dias depois de publicada a coluna, mandei um email para o tal site perguntando quando meu novo conto-álbum (já enviado fazia algum tempo) entraria no ar. Nenhuma resposta. Mandei outro uma semana depois. Nada. Depois disso acho que o site onde estocávamos os contos sumiu. "Que gente desorganizada", pensei, feliz por ter menos uma responsabilidade, frívola que só.
Só muito tempo depois é que me bateu: depois da coluna publicada, um leitor meio stick-up-his-ass do jornal tinha me escrito reclamando (1) que eu chamara uma banda pelo nome do álbum e (2) do rótulo de indie que eu tinha aplicado, segundo ele, incorretamente. (Eu não tinha idéia de que os indies, como os existencialistas, recusavam o próprio nome.) Percebi meses depois que ele devia ter escrito também para os meus colegas indies (a URL constava da coluna) e me delatado; eles devem ter ficado com ódio e me expulso do clubinho por causa da traição. E se eu não tinha noção da "traição", muito menos do "castigo". Passou completamente em branco. Se eles tivessem me escrito, xingando que fosse, eu poderia ter tido a chance de pensar em riscar o pezim no chão: desculpa, vá...
Mas a verdade é que eu provavelmente não faria isso. Vai ser sensível assim lá longe.
As paradas de 1980 a 1989 abrigam uma quantidade absurda de músicas geradoras de futuros samples.
Experimente baixar estas aqui e confira:

Another one bites the dust (Queen) -----> 2345678 - Gabriel o Pensador.
Upside down (Diana Ross) ----> não lembro mas tocou como praga nas rádios faz um tempo.
Superfreak (Rick James) gerou a "Can't touch this" e posteriormente, "Xereta" - Claudinho e Buchecha.
Heaven is a place on earth - Belinda Carlisle ---> Halcyon ao vivo - Orbital.

29.9.05

Fui comprar um livro da faculdade pela internet e simulei a compra em várias lojas, para poder considerar o valor do frete. Acabei comprando de uma livraria lá do sul que oferece descontos tentadores (embora demore um pouquinho se o livro for "raro").
Então o Submarino me manda um email com a foto do tal livro.
"Esse produto tem uma história inacabada com você. Nós prestamos atenção (...). Caso ainda interesse, aqui está uma segunda chance de conciliar o que antes era só um namorinho."
O livro era "A manipulação da palavra", do Philippe Breton. Ah, marketeiros.

28.9.05

atenção: post chato

Análise de texto: "Todos nós especulamos em algum momento da vida." e a menina me aponta isso como "verdade". Tomou uma gentil admoestação do professor de retórica. "Podemos sair daqui e dizer qualquer coisa: que a aula foi chata, que vieram muitos alunos, que eu não prestei a mínima atenção, mas nada disso é verdade, fato. A única certeza é de que nós estamos aqui hoje nesta sala."
Nesse momento pronunciei Descartes, mas acho que ele não me ouviu.
O apartamento de Francisco é antigo. De seu quarto ele vê estrelas. Da varanda ele vê partes de edificações beges e brancas, ouve ruídos de crianças em playgrounds e divisa uma ou outra planta decorativa. Quando ele volta da varanda até o seu quarto, passa pela porta do outro quarto. Quando o sol se põe, deixa a varanda e a sala alaranjadas. A janela do outro quarto dá para o poço de ventilação. Seu vizinho é next door mesmo. Do banheiro se ouve tudo o que se fala na suíte do quarto de Francisco.
Fiz a planta para saber se isso existia mesmo ou era Escher.

As coisas esdrúxulas que uma pessoa faz quando escreve um livro. Devo ser das pessoas menos preocupadas com coisas como exatidão e verificação "científica": se exercesse mesmo o jornalismo, eu teria que me forçar a ser atenta ou viveria nas erratas até ser despedida. Só fiquei curiosa para saber se tinha inventado algo plausível.
Apenas um detalhe era arquitetonicamente improvável: o outro quarto dar para o poço de ventilação. Apartamentos antigos são bem mais generosos: um quarto de frente prum poço de ventilação seria algo impensável. Agora este quarto dá para a parede, pronto.
Também descobri que o apartamento de Francisco é de fundos e seu quarto é lateral.

Cheguei a pesquisar normas da ABNT:
"Nos últimos anos, tem renascido o interesse na promoção das boas práticas de projeto de iluminação natural por razões de eficiência energética e conforto visual. O uso otimizado da luz natural em edificações usadas principalmente de dia pode, pela substituição da luz artificial, produzir uma contribuição significativa para a redução do consumo de energia elétrica, melhoria do conforto visual e bem-estar dos ocupantes. A luz natural possui uma variabilidade e qualidades mais agradáveis e apreciadas que o ambiente proporcionado pela iluminação artificial. Aberturas, em geral, proporcionam aos ocupantes o contato visual com o mundo exterior e permitem também o relaxamento do sistema visual pela mudança das distâncias focais. A presença da luz natural pode garantir uma sensação de bem-estar e um relacionamento com o ambiente maior no qual estamos inseridos."
Dado que o livro tem gente trocando o dia pela noite e vedando as janelas com papel-cartão preto, achei uma certa graça.

27.9.05

Londres me seguiu até aqui: não pára mais de chover e as pessoas estão até aprendendo a andar com guarda-chuvas.

25.9.05

Buy it now

Buy it never. Eu me senti uma psicopata vendo esse filme (sobre a menina que leiloa a virgindade pela internet). Não senti a mínima empatia por ela. Ela tinha (tem) uma vida extremamente besta e faz por merecer.
Ela é óbvia demais. Uma adolescente com bichos de pelúcia e pôsteres no quarto (Britney Spears, Christina Aguilera, Paris Hilton, Eminem, Johnny Depp). O terapeuta dela lhe receita remédios tarja preta. Além disso, ela usa drogas e se corta "para aliviar a pressão". Ela gasta todo o dinheiro ganho com o leilão em bolsas Prada e mais objetos de grife que viu folheando a Seventeen. A mãe dela é "má" porque não lhe dá mais a atenção 24/7 com que estava acostumada na infância. Até acredito que haja gente assim nos Estados Unidos, estereótipos ambulantes. Isso explica mas não justifica.
What's more, simpatizei com o cara que comprou o "produto" dela. Era um cara legal. Pena desperdiçar 2000 dólares com aquela parva (acontece: eu mesma desperdicei 6 reais). E a mãe dela era ok. Não o máximo, mas ok.
Na seqüência final, eu comecei a bocejar sem parar ao mesmo tempo em que o cara magrelo do meu lado (que ficava estalando as juntas clec clec a porra do tempo todo) começou a chorar copiosamente por baixo dos óculos. No segundo em que terminou o filme, a menina do outro lado (que ficou falando no celular durante o filme) virou para alguém na fila de trás e começou uma verborragia sem aviso prévio nem te falei que aquela hora estava chorando deprimida por causa de quebraram a minha cozinha pra reformar ou algo assim. Ora, façam o favor e se matem de uma vez. Suicídio coletivo dá manchetes maiores, sabem.

23.9.05

Eu sei: ando muito polissíndeta.
Gosto de chá
("gôsto" de chá)

Gosto de chá é um filme leve que inclui todas as obsessões japonesas: jogo de Go, cosplay, anime, mangá, mechas ("robôs gigantes"), Yakuza, famílias numerosas, sakuras ("flores de cerejeira"), passagens das estações, colegiais, artes marciais, kawaii ("fofura") e, é claro, chá. Tenho certeza que muita gente saiu dali sem achar o filme tão legal quanto merecia porque não conhece muito bem a cultura japonesa. Bem, perdem eles.
Não é um filme que vá mudar sua vida, mas vale a pena ver se você conhece um pouquinho do Japão e gostou de, por exemplo, Donnie Darko, Ninguém pode saber ou A última vida no universo.
Está passando no Festival do Rio, este filme, mas também no Emule mais próximo de você.

19.9.05

Hoje eu sonhei que estava dentro de um livro do Dickens. Mesmo sem ver o título nem nada eu sabia que era um livro do Dickens. Era óbvio. Tinha crianças muito inteligentes (três) e uma grande casa velha que as abrigava temporariamente. A casa velha era de velhos completamente desleixados e alheios à vida e se havia mais adultos era de passagem e com malas pretas. Em toda a casa havia apenas um livro, esse sim "fictício" e um pouco mais antigo, também escrito pelo Dickens. Tinha um cachorro malhado que fazia cocô em tudo quanto era canto e eu era a narradora.
Quando alguém abria o livro, a narradora narrava. O resto do tempo eu ficava de papo pro ar, sentada nos montes de palha pelo chão, ou fazendo as crianças fazerem coisas - vocês podiam adestrar esse cachorro, por que não lêem esse livro e ia fazendo a história andar secretamente.
Depois que as crianças adestraram o cão e leram o tal livro (que tinha um título comprido como "A grande aventura de ????? ?????? em ????????" e uma capa ilustrada e colorida) eu mesma resolvi lê-lo.
A cena se desfraldou à minha frente como um holograma. As pessoas da capa conversavam durante um piquenique. A menina rica dizia que o filho do caseiro não deveria cuspir grãos de milho cozido atrás da casa, se não gostava era só falar. Todos os personagens diziam e agiam de forma muito interessante, menos Amelia Greasebrain. Amelia Greasebrain tinha olhos verde-cobra e cabelo cor de palha, e quando encontrava alguém conhecido, tangia-lhe a cintura e fazia cócegas com seus dedos ossudos. "Vocês todos são muito legais", disse eu, sincera como uma narradora, e notando os sorrisos, "menos você. Você é muito chata. Sua história é chata e desinteressante."
Nesse momento, todos os outros personagens se envolveram na toalha do piquenique até sumirem. De puro medo. Os olhos de Amelia Greasebrain se tornaram vítreos e demoníacos. Ela rosnava. Ela arrojou seu bebê no meio da toalha de piquenique, possessa. Ela me odiaria para sempre.

Fui retransportada a um sonho anterior. Nesse sonho, passado nos anos 50, uma velha de 90 anos morria num leito de hospital e eu, por falta de camas na cidade, era convidada a dormir ali mesmo, onde trabalhava como enfermeira. Outra enfermeira insistiu em esfregar o meu futuro leito com algodão embebido em desinfetante antes de pôr o lençol, apesar de eu ter estranhado o procedimento. Aquilo aumentou minhas suspeitas. Já tinha notado algo de estranho com a velha antes da sua morte, mesmo ela sendo pacífica como um cordeiro.
Este sonho era chato e árido, mas há um motivo para falar dele. Amelia Greasebrain era aquela velha. A história dela se desdobrou: aquele bebê que segurava e jogara longe era de um médico que, há pouco tempo atrás, tivera um caso com uma enfermeira. Amelia se convertera e sorria na foto do casamento, transformada da bisca que era. Mas logo sua maldade reprimida aflorou com toda a força e ela matou o marido e a tal enfermeira, cortando os dedos pintados da mulher e comendo-os entre dois pedaços de pão de forma.
Agora Amelia tinha tomado o corpo da minha colega de quarto e ficava correndo atrás de mim por vários cenários de sonho, para me cumprimentar a cintura com cócegas ossudas. Um horror.

16.9.05

Vou ter que dizer. Sou (ou pareço ser) a única escritora atual que acredita em inspiração, torre de marfim, estas coisas. Claro que numa versão atualizada - explico.
Não acredito que algumas pessoas tenham a coisa e outras não, mas acredito que nem todas saibam ter, como um orgasmo.
Não acredito que seja uma visita súbita. É uma ideiazinha que vai se girando e encaixando no lugar - pense nas engrenagens de uma máquina -, vai se juntando com outras partículas de idéia, e aquele momento em que você percebe que tem uma boa idéia encorpada na mão, isso é inspiração.
Você pode guardá-la para mais tarde, fora da geladeira, por até alguns dias ou semanas, de forma a madurá-la melhor - bananas não amaduram na geladeira, ficam com gosto de verde, já percebeu? É só tirá-la de lá quando for sentar para trabalhar. Mas pra mim não adianta sentar para trabalhar sem uma dessas na cabeça. Nem que seja uma inspiração de tirar, do tipo "riscar aquele parágrafo todo".
Eu costumava querer me forçar a desacreditar na inspiração e, na época do No Shopping, sentava todo dia na frente do computador, mesmo sem vontade ou idéia. O resultado é que acabava fazendo besteira. Jogando fora coisas boas e acrescentando monstruosidades que depois, num dia mais lúcido e propício, eu lia e me arrependia.
Talvez, se um dia eu quiser me tornar profissional, eu trabalhe algum jeito de chegar lá - no trabalho cotidiano. Mas por enquanto, o que faço profissionalmente é traduzir, então continuo com o que funciona.

15.9.05

Ah, sim: Cinderella Man estreou no Brasil. Abri o jornal e dei de cara com uma crítica que dizia, basicamente, "o filme afundou nas bilheterias americanas porque critica os EUA pós-11 de setembro, então vamos ver, porque nós não gostamos dos americanos capitalistas neoliberais certo?".
Aí eu me pergunto, "quem escreveu esta merda??" e procuro o nome e descubro que o lixo do JB foi cuspido no Globo.
Oh, sim, agora estou colada. Fiz juramento e tudo. Formatura na UFRJ é uma fraude, você ganha inclusive um canudo vazio por dentro. Colação de grau, é isso que conta.
I'll start with the ethics part.
Sinto que devo ser verdadeira. Jornalismo não presta e vou jogá-lo no lixo. A não ser que possa ser crítica literária e escrever grandes besteiras sobre gente que se leva muito a sério e machucar interesses.
Meus colegas estão desempregados e subempregados porque o jornalismo no Brasil não tem perspectivas saborosas como o da TimeOut inglesa, que esqueci no metrô junto com a blusa que dizia

ALL THIS
AND BRAINS


(but no memory, i should add)


e uma saia verde de bolinhas pretas (eu<---- terrorista), e que tem reportagens como pole dancing lésbico e "why I hate Notting Hill Carnival". Tinha uma seção de profissões cujo cotidiano é desconhecido do público, e desta vez eram gourmets de comida de avião. Tinha boxes que só estavam ali para fazer humor, do's and dont's. Fora as coisas run-of-the-mill só que feitas de uma forma divertida - divertida, cacete! Aquela coisa que a Trip e a TPM tentam fazer mas ai, ai. Enfim, dá vontade de chorar.
Anyway, agora estou livre e solta para fazer Produção Editorial, que aparentemente é o curso que eu pediria a deus se acreditasse nele. E com perspectivas interessantes. É como se meu cérebro estivesse esticando tentáculos em oito direções. Leia abaixo.
and my heart flickered when he rubbed the chalk onto the board just to write...
ECHO OFF

and virtual tears came to my eyes when she handed in the page for translating which read "IF YOU REALLY want to hear about it, the first thing you'll probably want to know..."

and rhetorics and screenwriting and photoshopping and pagemaking is ok with me.
SE VOCÊ ESTÁ MESMO INTERESSADO na história,

Estou fazendo Produção Editorial.
Uma mulher deu tradução,
outra Pagemaker,
um professor dará roteiro e retórica
e outro, MS-DOS e programação em geral.

Someone's been reading my mind.

9.9.05

Não, as pessoas não perguntam sempre sobre o que é um livro porque realmente achem que um livro tenha que ser alguma coisa... é que estão tentando aplicar-lhe a etiqueta - a Etiqueta, a com é maiúsculo.
O que passa pelas cabeças é o seguinte: o que se pergunta a uma pessoa tem que ter a ver com as coisas supostamente seguras em uma small talk - o tempo, a família, a profissão. O que a pessoa não sabe é que a escrita não é uma profissão muito segura, e sua singela pergunta work-related vai detonar uma crise de pânico, e o escritor vai segurar a cabeça como se fosse explodir, e... oh deus o que é que vou escrever na maldita orelha? e na quarta capa?
Um escritor jamais faria a outro esta pergunta maldita. A não ser que o odiasse, fosse um picareta ou fosse distraído a ponto de se apoiar na etiqueta para não cair (------->eu).

Uma pergunta melhor: como é a história?
Xingamentos ingleses rulz

Whatcha think ya doin' you twat! disse a menininha inglesa de 12 anos com um cigarro atrás da orelha a seu irmão de 8 ou 9 que arremessava, do alto de uma escada do McDonald's, todo o conteúdo de um pacote de canudos na cabeça dela e da amiguinha apática.
What are we gonna do now you wanker! disse o menininho de 7 anos aos pré-adolescentes que o acompanhavam, ao descobrirem, no fundo do segundo andar de um double-decker, que aquele era o ponto onde deviam descer. Ao que o pré-adolescente retrucou let's get out on the next stop and walk. O menor you wanker! de novo. Mas perceberam que o motorista estava se demorando no ponto e decidiram descer atabalhoadamente as escadas.
E cheguei a ouvir um genuíno bollocks! de frustração. Genial.
The trick is...

As pessoas se ouriçam todas quando escritor tem blog. Como se pudessem entrar na vida dele. E como se sua vida fosse interessante. Honestamente...
As coisas que um escritor acha interessante no dia-a-dia só são interessantes pra ele. Só num texto você acharia aquilo interessante, então o escritor faz aquilo ser interessante em texto. Mas você só acha interessante porque está em texto; na vida real, você acharia o objeto do texto muito, muito trivial.
A perversão ("What is really fucked up about") dos best-sellers é que eles tentam ser interessantes também no assunto - espionagem, advocacia (como??), espíritos, sexo, sexo, sexo. Aí as pessoas que curtem um bom texto sobre coisas desinteressantes ficam com nojo de pegar neles, enquanto as que gostam de emoção barata se aproximam, bem, como baratas. Mas não tem nada, não, alguns são até legais.

1.9.05

Zorba, o Grego, fez você perder seu emprego*

Falando em etnias, fiquei num hostel gerenciado por gregos. Aliás, o bairro todo era gerenciado por gregos. Logo ao lado tinha um de árabes, outro de indianos...
O hostel grego era meio bagunçado, mas o pior eram os hóspedes. Imagine Pumpin' Techno Grego madrugada adentro (abençoada idéia de levar tapa-ouvidos). Fumavam onde não deviam e emporcalhavam o banheiro quando voltavam do futebol. E olha que eu não acreditava nesse estereótipo de gregos cuca-fresca e vivendo no momento. Quem acredita mesmo são eles, pelo jeito.

*musiquinha do Zumbi do Mato

31.8.05

Ah, sim: os double-deckers (os ônibus de dois andares) de Londres tinham uma propaganda que dizia assim:

You could be driving toward $500 a week!

Tinha um asterisco logo depois disso, e na barra do cartaz explicava: "including overtime" (ou algo do gênero, que quer dizer "Incluindo hora extra".)
500 libras por semana são 2000 num mês (sem contar o rabicho da semana que sobra). Duas mil libras, vezes 4,40 que é a cotação dela em reais, são 8.800 reais. Tudo bem que lá a vida é (bem) mais cara, mas cacete, a comparação com o que um motorista de ônibus deve poder comprar aqui...
Isso sem contar que o brinquedinho a ser dirigido é very neat. Poxa, um ônibus de dois andares! Mais alto que isso no meu conceito, só astronauta ou piloto de avião...
Confesso que fiquei tentada. Eles têm muitas motoristas mulheres. Mas para passar no exame eu precisaria:
1 - saber dirigir um carro de verdade. Minha carteira diz que eu sei, mas é mentira.
2 - saber dirigir um ônibus. Talvez eu possa fazer um estágio com o motorista do 432, também conhecido como Montanha Russa dos Pobres.
3 - aprender a dirigir na mão inglesa. Dislexia ahoy.
4 - aprender a manter um trambolho de dois andares sob controle, especialmente nas curvas e ladeiras.
5 - aprender a falar inglês britânico superfluentemente, e entender o sotaque de todas as etnias que vivem em Londres. Até porque algum thug poderia tomar o meu "excuse me???" como gozação e/ou ofensa.
Logo, é impossível. Mais chance tenho da NASA me aceitar.
dislexia - a missão

Aliás, o Cinderella Mannão é Hugh Jackman; é o Russell Crowe. Eu confundo os dois desde que eles disputaram o papel de Wolwerine em X-Men, assim como Sócrates e Aristóteles, Baudrillard e Baudelaire, e Praça XV com Praça XI.

30.8.05

reality show da Mona Lisa

Notei uma espécie interessante na Europa: os idiotas cultos. Aquela gente que vai a museu, mas só olha (e tira foto, e com flash, é claro) das obras "famosas". A Mona Lisa, pobrezinha, fica o tempo todo, até no supostamente mais calmo horário do almoço, soterrada em gente. Câmeras e filmadoras jorrando luzes em cima do sorriso misterioso. Agora me diga porque nego quer filmar um quadro? Estão esperando a menina cair em prantos, só se for - "é muita pressão, é muita pressão!" - é o que eu faria, no lugar dela. Mas esta é a vantagem em ser pintura. Imagine uma celebridade que estivesse próxima a você, não pudesse se mexer e sorrisse pra você o tempo todo. Pois é. Culpa do Dan Brown, também.
Mas o idiota culto vai muito mais longe do que isso. Ele enxameia os free shops. O idiota culto adora lembrancinhas baratas - miniaturas da Torre Eiffel, por exemplo. Melhor se for chaveiro. Quando a entrada de tal lugar é de graça, mas com "contribuição sugerida", o idiota culto sente ganas de cair na gargalhada, mas se contém. Ele leva uma criança de 4 anos ao Louvre, mas não aos jardins de Luxemburgo, e ignora o choro (choro que quem está à sua volta não consegue ignorar). O idiota culto não vai perceber que a fila já andou, vai fumar em local proibido se nenhuma autoridade competente estiver olhando (mas eu estou) e vai falar alto para chamar a atenção. O idiota culto lê - dramas familiares, maus romances policiais, lixo de autores latinos da moda - e participa de grupos de leitura. Se o idiota culto ler alguma coisa boa, não vai perceber - mas vai elogiar, se todo mundo estiver elogiando.
Na Europa vi que nível de escolaridade não é tudo. Mas essa espécie execrável também grassa em nosso meio. Como se não bastassem os idiotas incultos, o Brasil é cheio de idiotas cultos. São fãs incondicionais de Gabriel García Márquez e Ítalo Calvino, que não ofendem muito (e na primeira oportunidade após te conhecerem vão soprar no seu ouvido ou enunciar arrogantes a uma certa distância, de forma diretamente relacionada ao sexo do interlocutor e à própria orientação sexual, "você já leu Márquez?"), escrevinhadores de bobices que julgam profundas, freqüentadores dos piores filmes em cartaz nos "cinemas alternativos", nos quais furam a fila, óbvio. Watch out.
tópicos sobre a viagem

- Quando se sai de um museu devidamente apreciado, a vida toda lá fora parece mais artística e detalhes "inéditos" saltam aos olhos. Desde o primeiro dia, mas principalmente depois dos museus, comecei a ter sonhos inéditos e plasticamente inovadores, e quase todos nem um pouco desagradáveis.
- Cinderella Man é o novo filme-talhado-para-o-oscar. Cartazes com o Hugh Jackman com olhar de Nicholas Cage e Renée Zellweger de cabelo tingido escuro e biquinho piedoso.
- No metrô de Paris tem cartazes grotescos da Mireille Mathieu em seu novo disco/show em que ela parece a Débora Bloch travestida de repórter na TV Pirata.

- No metrô de Paris também tem cartazes do Rock en Seine cujo logo é Napoleão maquiado como um Kiss, e shows de Queens of the Stone Age, Goldfrapp, Franz Ferdinand... mas começava quando eu já estaria em Londres.
- As livrarias londrinas. Livros para todos os segmentos de mercado, inclusive os idiotas - romances de banca e Dan Browns por exemplo - mas auto-ajuda, curiosamente, não parece dos mais fortes. A última febre lá é um quebra-cabeça de quadrados mágicos do Times que atende por Su Doku; preparem-se os brasileiros (cavando buracos na terra) para a "nova" mania que deve chegar aqui dentro de um a três anos. Todas as cadeias fazem promoções de 3 por 2 (o livro mais barato sai de graça) para as férias. A livraria Borders tem uma maldita promoção viciante: a cada compra, um vale-desconto de 5 libras em compras de mais de 20 libras para três dias depois. Usei uma vez e que angústia por ter recebido um segundo vale-desconto válido para hoje, amanhã e depois de amanhã.
- Consulte o fotolog para maiores detalhes.

7.8.05

Vou ficar fora um tempo, provavelmente até o final do mês.
Bye.
Zelig

- Sabe o quê estou baixando agora? Zelig.
- Oh! Que coincidência! Também estou.
- Também?
- Provavelmente você está baixando de mim.
parallel parties

Vi hoje um filme que nunca tinha visto antes: A garota de rosa-shocking. Passou na Se$$ão Premiada do SBT, um aborto da natureza comandado pelo Celso Portioli que, agora que não tenho mais TV a cabo, ando assistindo todo sábado.
O que me deixou espantada foram os trejeitos da Molly Ringwald no filme - sabem o que chamo de trejeitos, não? O jeito de abotoar a boca num bico quando está muito puta, a forma de entreabrir a boca quando recém-termina uma frase, a maneira de olhar enviesado quando alguém está fazendo algo de estranho e vagamente divertido etc.
O porquê do espanto? Foi a percepção de que, se eu tivesse visto o filme quando era pequena, e internalizado os trejeitos da Molly Ringwald como algo a ser feito por mim ou admirado nos outros - o que aconteceu, isso sim, com a Jenniffer Beals em Flashdance - eu não teria percebido os reflexos disso na "vida real", mas sim agido escravizada pelo inconsciente coletivo oitentista sem perceber.
Como, pelo contrário, eu só vi o filme agora, pude perceber que muita coisa do que vi na "vida real" de 83 para cá e achei original era reprise!
Malditos anos 80.
(Caso alguém ainda tenha dúvidas, estes foram os surtos número 2 e 3 and counting.)
eu não vou mover uma palha

OOf.
As palavras estão bonitas e uum, o estilo gruda na garganta, custa atravessar e deixa rastros como uma aspirina longamente retida na boca.
É Paulo Coelho, sabe? Está bem livro de bruxo mesmo.
Sim, agora, relendo o livro novo, percebo que o que fiz foi uma brincadeirinha... uma parábola sobre uma causa que nem sei se acredito.
E é assim que deve ser.
Acabo de escrever um livro ruim e despudoradamente quero publicá-lo exatamente assim. Desesperadamente também, como se as coisas pudessem explodir antes que eu tente explodi-las.
(Imagino gente lendo este post e revirando os olhos: alright, she's on drugs.)
Heavy drugs.

6.8.05

Surto no. 1

Crise de choro vendo "The Grandmother", primeiro curta do Lynch.

5.8.05

A temporada de insanidade está aberta

Sinto-me temporariamente insana e sei que vai passar na segunda-feira. Poderia alegar tensão pré-viagem, mas não é. É algo mais complexo, tem a ver com diversos elementos. Algo como uma conjunção, não necessariamente astral, ou deveriam enjaular (num aquário) todos os piscianos com ascendente em aquário para a própria segurança deles.
Deve ser agosto. E certa festa que descobri - alguém leu meus pensamentos, bastante óbvios.

Principalmente agosto, mês em que captava em brilho toda a polaridade invertida do carnaval e todo o desgosto dos outros e, soberana do banco alto em cima da roda, deslizava ao longo do campo santo.

4.8.05

Conhecendo alguns considerados taciturnos, anti-sociais e inseguros a fundo você percebe que é uma característica adquirida. Que estas pessoas são inteligentes e magnânimas (fortes o bastante para não querer ganhar sempre), e que o tal "mau-humor" ou "insegurança" é apenas uma forma de não ofender tanto as pessoas - não porque façam questão de sua companhia, mas por - vamos chamar de pena, mesmo. Assim, após uma resposta necessariamente ríspida a uma pergunta/afirmação estúpida, a dona desta pergunta/afirmação confere o rosto do outro - que já está recolhido a si mesmo - e tem a chance de pensar que o problema é com o outro, e não consigo própria. Fantástico.

3.8.05

Asper euts e o tempo

Eu adorava spirits in a material world quando era pequena, e prometi me comprar um disco (era disco, e sim, de vinil) assim que crescesse e pudesse entender o nome contido no refrão. Cresci e me tornei english-smart, mas aprendi o inglês americano - e, portanto, continuei sem entender que hell era aquilo de "asper euts" in a material world que eles falavam. Depois que eu voltei da Inglaterra, já com 16/17 anos, e decidi baixar algumas músicas do Police pelo Audiogalaxy, é que tudo se encaixou perfeitamente: ouvi a música que constava do catálogo de vários usuários e iluminei-me... asper euts era sotaque!
Tempo é bom, e eu não tenho pressa.

31.7.05

fonctionnaire fatale

Não é só para escandalizar meus pais (funcionários públicos de looonga carreira) que pretendo ser promíscua nos meus empregos - privados, claro. Pretendo trocar sempre que não me sinta satisfeita, além de quando estiver a fim de experimentar coisas novas, quando me oferecerem um salário melhor e o que mais me der na telha. Isso me permitirá manter sempre o interesse e a qualidade do trabalho em alta. Quero meus chefes segurando meus pés e implorando com voz esganiçada eudobroseusalário vocêfazumótimotrabalho ficacomagenteporfavor. E eu, acendendo um cigarro imaginário, glamourosíssima: sorry, beibi, já deu.
Só não me chamo de colecionadora de carimbos na carteira de trabalho porque também pretendo experimentar todas as modalidades de relações trabalhistas, inclusive as frilas e - como chama o JN - "à margem do mercado". Ei, isto é uma cantada.

28.7.05

Cheguei à conclusão de que não me adapto neste lugar. Por "este lugar", entenda-se Brasil e tudo o que isso significa próximo à área de estereótipo.
Foi bom chegar a esta conclusão agora (eu ia colocar, na frase inicial, "amarga" conclusão, e desisti porque percebi que não reflete mais a realidade). Foi bom porque agora não estou nem aí e posso aceitar perfeitamente a conclusão que acabei de encontrar via diversos indícios.
Quando está "frio" e os cariocas se encolhem em coloridinhos casacos de lã, eu acho que aquilo, de alguma forma, devia ser o de sempre.
Quando numa boate as pessoas se agacham, põem as mãos no joelho e balançam a bunda, e outras pessoas sorridentes se encaixam no movimento logo depois, numa espécie de trenzinho infernal, eu penso que alguma coisa de errado com o mundo deve ter.
Quando alguém "chega" em alguém que está quieto no seu canto, obviamente após chopes demais e de cabeça feita por amigos tão bêbados quanto... não chego a pensar em suicídio, porém fico desejando arduamente um interruptor que, apertado, desligue aquilo - que só pode ter saído de uma novela ruim (pleonasmo exceto por Vamp e, vá lá, Que rei sou eu?).
O fator argh é triplicado quando a pessoa "chegada" concorda, e quadruplicado quando foi vencida pelo cansaço.
(O fator argh é o nome que eu inventei para o sentimento de nojinho constrangido, algo que grita em sua cabeça não! não! Nãããão!! enquanto você tenta não encostar muito naquelas pessoas e, nas primeiras vezes, deixa um gosto de céus, como é que elas não sabem, mas depois você se acostuma. Grandes amizades e até paixões surgiram do fato de uma pessoa perceber que outra está compartilhando do seu fator argh em relação a algum objeto, o que, dada a mediocridade geral e a tendência à indienização blasé já-vi-de-tudo, está cada vez mais raro.)

25.7.05

goooooood boy

Richard Kelly, roteirista e diretor do doido e ótimo Donnie Darko, agora vai fazer um filminho chamado Southland Tales. A história me deixa babando (tanto como a do upcoming The Fountain, do não-menos-brilhante Darren Aronofsky, diretor de Pi e Réquiem para um sonho). Explica o Omelete: a Sarah Michelle Gellar (a Buffy) vai fazer uma atriz pornô chamada Krysta Now, "The Rock" (o cara da Múmia) vai fazer um astro de ação com amnésia chamado Boxer Santaros e Sean William Scott (American Pie) vai ser um policial - os três numa Los Angeles pós-apocalíptica.
Como se não bastasse, o cara anunciou graphic novels (ou seja, histórias em quadrinhos de luxo) sob títulos de músicas do Garbage e Moby - este encarregado da trilha sonora de Southland Tales.
OK, é simplesmente muita coisa foda junta e estou tonta.

Oh, em tempo: vão filmar Coraline, livro "infantil" do Neil Gaiman. E preciso assistir A Fantástica Fábrica de Chocolate do Tim Burton com o Michael Jackson, ou melhor, o Johnny Depp. De preferência legendado.
O iPod sobre a bicicleta me faz revalorizar músicas que, do contrário, seriam apenas mais-umas. Estas músicas precisam de uma certa velocidade e de uma paisagem bonita para serem mais apreciadas.

Caravan - Miranda sex garden
Fuga no. 2 dos mutantes - Os Mutantes (duh)
Misread - Kings of convenience
Yoake no scat (da trilha de Shoujo Kakumei Utena)

e esta já é boa de qualquer forma:

Poney (part 1) - Vitalic

e uma boa pra tirar as mãos do guidom:

Push yer hands up - Mantronix

24.7.05

menos, menos

Ok, acabei de ler um título que incluía a palavra "valerioduto". É, caros mais-ou-menos colegas, é chegada a hora do conselho amigo:
Chega de cunhar expressões espertinhas ao romper de escândalos!
Tudo bem, à sua época, algumas palavras e expressões witty foram muito bem-vindas à nossa língua, como "apagão" e "patricinha". Mas agora já está pegando mal esta mania de querer pregar correndo o rótulo em todos os casos para diminuir o tamanho das manchetes. Falta wit para tanto. Nada pessoal, o trabalho é corrido e diário; e é por isso mesmo que falta wit. Fora a guerrinha implícita e ridícula que se arma entre as fontes noticiosas para aplicar o rótulo vencedor. É, eu sei: agradar o Marketing sem estar recorrendo a uma solução fácil é difííícil... mas pelo menos não é constrangedor.

22.7.05

Para terem uma idéia de como está parado o trabalho hoje, escutei inteira A huge, evergrowing pulsating brain that rules from the centre of the ultraworld, do Orb, que é tão grande quanto seu nome sugere.

looooovin' you,
it's easy 'cause you're beautif-oh-owl
and everything that i do,
it's out of lo-oh-vin' you

la la lalala,
la la lalala,
la la lalala, la la, la la-a-ah

doop-de-doh-dee-roo-roo-oh

AAAAAAAh-Ahh-Ahh!


(e pior que eu adorava a fonte cafona desse sampler na Antena 1)
Fui derrotada pela minha máquina de lavar. Apesar de nos darmos relativamente bem desde sua devida instalação na casa nova, ela insiste em deixar uns fiapos brancos nas minhas roupas pretas. Aconselhada por minha mentora com nome de epopéia grega, resolvi adquirir um daqueles rolos adesivos que substituem tão bem a antiga escova de roupas.
Entrei na Casa& Video do Largo de São Francisco e fui logo procurando um atendente de camisa amarela, que são os que supostamente te ajudam. Mas não enxerguei nenhum livre. Havia, em vez disso, múltiplos seguranças com walkie-talkies everywhere, olhando sombriamente para todos os clientes que passavam e cochichando coisas no tal rádio.
Perguntei a uma moça da segurança mesmo e ela indicou o segundo andar, "Utilidades domésticas".
Chegando lá, tudo muito mal-sinalizado e perdidoso, tive que perguntar de novo (e de novo, para um segurança, já que os caras-que-supostamente-ajudam não estavam em lugar nenhum). Ele disse, genericamente, ali atrás. O que achei ali atrás, no entanto, foi uma moça de camisa amarela que me mostrou o caminho.
O rolo adesivo estava 9,99 e era de uma marca chinfrim. Resignei-me e andei até o caixa, sempre olhada torto pelos seguranças. No caminho, lembrei que estava precisando de um garfo de cozinha, daqueles grandes, e virei para o mesmo segurança que tinha informado ali-atrás. Ele mandou perguntar ao cara de camisa amarela (ou seja, recusou-se a responder).
Algum tempo depois, consegui encontrar um, que me levou aos garfões. Todos de marcas vagabundas e/ou desconhecidas.
-Tem Tramontina?
-Vou dar uma olhada no estoque.
Fico cinco minutos plantada em frente aos talheres e nada do camisa-amarela voltar. Nisso olho para o lado e vejo - quem? - o mesmo segurança a quem eu já tinha feito duas perguntas parado no vão entre as gôndolas, me olhando com uma cara sinistra e cochichando algo sobre a "menina dos talheres".
Fico olhando para ele muito puta, com vontade de dar instruções bastante precisas sobre a utilização do rolo (estava até agora na minha mão), afinal, estava ali parada exatamente por causa da inépcia do atendimento daquela loja - e ele simplesmente dá um passo para trás da gôndola para evitar o meu olhar, apenas ligeiramente pior do olhar que ele estava me dando um momento antes!
Sei que larguei o rolo ali mesmo, entrei na Casa Cruz, cuja única medida ostensiva parece ser fechar a sua sacola com durex, onde adquiri o mesmíssimo rolo, só que de uma marca melhor, por 6,99.

Primeira coisa, por que colocar o triplo de caras-que-vigiam do que caras-que-ajudam? Isso torna o ambiente insalubre. Não estamos numa prisão, e todo mundo é inocente até prova em contrário, pelo menos teoricamente. Vai ver que sim, têm muitos roubos ali. Mas é claro que o fato de espantarem justamente aquele que vem comprar em paz a bordoadas no ânimo não ajuda no lucro.
A Casa&Video não está fazendo nenhum favor ao cliente em vender os produtos. Eu, pelo menos, não me submeto a um atendimento ruim e a desconfiança encarniçada sem motivo só porque quero adquirir um produto. Alguém precisa avisar à Casa&Video que o cliente não é seu inimigo.

17.7.05

No tempo em que as escritoras mulheres não podiam entrar para a Academia de Letras e, portanto, não podiam contar com o vultoso salário público reservado aos nossos felizes colegas de cromossomo Y, uma fraternidade secreta só delas foi formada. Não se sabe se o primeiro objetivo foi vingança ou ganhar mais dinheiro que os colegas acadêmicos justamente às custas do machismo. O certo é que o teatro de revista e afins ganharam as formosas pernas de Cecília Meirelles, a boca de Pagu, o charme de Zélia Gattai, o olhar fatal de Hilda Hilst... até Clarice topou, no que acabou sendo o laboratório para A via-crúcis do Corpo. Ninguém nunca desconfiou porque todos achavam que escritoras tinham uma vida muito chata; era dizer ao marido/amante/família que iam ao sarau ou ao chá ou a Paquetá com suas amigas, e pronto. Além disso, aquela multicolorida ali simplesmente não podia ser a moça recatada estampada em P&B nos diários! E, como precaução, uma das regras da fraternidade dizia respeito a se segurar para não dar palpites em espetáculos ruins: eu fazia bem melhor que isso!!, costumava lamentar-se Hilda nos bastidores.
Claro que depois disso as escritoras mulheres puderam entrar na Academia, porém descobriram que não estavam muito interessadas - e a fraternidade se manteve. É que, além de certas más companhias, a nightlife é muito mais empolgante do que ficar lá, sipping tea, e hoje, com o fim da revista, elas rodopiam ao longo de tubos de striptease, com algum impulso.

(Criado agora, mas pensado à época do lançamento de 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura.)

16.7.05

Eu penduro os meus óculos na gola e meu casaco, amarro no quadril. Hoje em dia patties colocam os casacos ("casaquinhos") sobre os ombros e os óculos escuros prendendo o cabelo escorrido para trás (feito "faixinha"), e marombeiros usam os óculos no pescoço, atrás da nuca pelada por máquina zero - mas eu continuo fazendo o que os anos 80 me ensinaram: óculos na gola e casaco no quadril.
Pois bem, às vezes, tiro os óculos e penduro na gola pra enxergar o que vou fazer - travar a bicicleta, geralmente - e aí a porcaria dos óculos caem. Qual é o lógico? Pegar os óculos depois de terminar de trancar a bicicleta, claro.
Mas em todas estas vezes um "cavalheiro", geralmente com mais de 50 anos, aproxima-se avisando que meus óculos caíram, recolhendo-os e me entregando em seguida.
Hoje, na enésima vez que isso aconteceu, simplesmente pulou da minha boca a seguinte frase:
- Sério? Não tinha nem percebido. Se não fosse o senhor...
A ironia é como um sinal de rádio: se perde quando não encontra um receptor adequado. Não sei mais quem disse isso, mas é a pura verdade. O tal senhor saiu todo pimpão, crente que tinha agradado e feito certo!
As pessoas burras devem ser muito, mas muito felizes.

Acho que vou colar um DISCLAIMER na minha testa:
Não, isso não é um lenço que deixei cair pra você pegar de forma a iniciarmos uma conversa.
Pode deixar: se eu quiser um relacionamento amoroso-sexual com você, deixarei perfeitamente claro, desde que já tenha admitido para mim mesma. (E não sou só eu, it runs in the family, com todas as conseqüências cômicas e trágicas pertinentes.) Agora, se você quiser um comigo, é melhor arriscar na megasena (1:50.063.860). Sou muito chata: chata-chata mesmo, e chata-picky, além de outros tipos de chatice como já ter namorado e não saber assobiar (poxa, minha grande frustração).